Luanda – A fazenda Vinevala, localizada no município de Chinguar, província do Bié, continua a afirmar-se como uma das principais produtoras de cereais em Angola, particularmente de trigo.
Com 15 mil hectares de terra disponíveis para a produção de arroz, trigo, feijão, soja e milho, a mesma prevê tornar-se, em dois anos, num fornecedor de referência na zona sul do país, em particular, e de Angola, em geral, apesar dos condicionalismos do mercado internacional.
Com efeito, a fazenda, que busca a auto-suficiência, investe na produção de vários cereais, numa extensão de aproximadamente 15 mil hectares de terra, distribuidos pelas províncias do Bié e Huambo.
Só em relação ao trigo, a mesma prevê alargar o seu campo de cultivo de dois mil para três mil hectares, face ao aumento de compradores.
Para tal, a fazenda já deu arranque à preparação da terra, tendo em vista o lançamento da semente, processo que se iniciou no último mês de Março.
O objectivo, segundo o seu proprietário, Alfeu Vinevala, é colher acima de oito mil toneladas, contra as duas mil e oitocentas toneladas da temporada passada.
Segundo o empresário, que falava recentemente em entrevista à ANGOP, a meta é ajudar o país a competir com outros Estados na produção de cereais, principalmente do trigo, tendo solicitado o apoio da banca.
"Queremos competir com os grandes produtores a nível mundial", disse o fazendeiro, sublinhando que pretendem, com essa estratégia, atingir uma média anual de mais de 10 mil hectares de terra cultivada.
Até ao ano de 2022, a fazenda tinha cultivados 400 hectares de milho, 200 hectares de soja e 280 hectares de feijão. Em stock, estavam, exactamente, 700 toneladas de trigo, 200 de milho, 120 de feijão e 60 de soja.
Para a presente campanha agrícola, prosseguiu, a fazenda prevê colher quatro mil toneladas de trigo, 200 de soja, 250 de feijão e cereais diversos.
Na campanha agrícola de 2021, a Fazenda Vinevala previa produzir 20 mil toneladas de trigo, superando as duas mil da época anterior.
O aumento resulta da extensão de mil para mais de quatro mil hectares, preparados nas localidades de Chinguar, Chipeta (Catabola), Camacupa e outros.
Para além disso, foram cultivados 600 hectares de milho, 200 de feijão e igual número de culturas diversas na Fazenda Vinevala, que, até 2020, era considerada uma das maiores produtoras de batata-rena da zona sul do país, com uma média de colheita de 12 mil toneladas/ano.
Com vista a atingir novos patamares no negócio dos cereais, a fazenda, que ainda preserva os seus produtos de forma arcaica (saco-a-saco), prevê investir na criação de uma fábrica de descasque e processamento.
Desprovido de silos para armazenar, convenientemente, os produtos, pretendem, num futuro próximo, ir atrás de um investimento, para abrir a referida fábrica de processamento e descasque dos cereais.
Metas do Planagrão
Na verdade, a produção de cereais em grande escala será uma das prioridades do Executivo angolano no quinquénio 2022-2027, meta que se pretende atingir com a implementação do Plano Nacional de Fomento para a Produção de Grãos (PLANAGRÃO).
A estratégia, com início este ano (2023), visa assegurar a auto-suficiência do país na produção no campo, mediante disponibilização de fundos públicos e privados aos fazendeiros e agricultores, que dizem estar prontos para impulsionar o PLANAGRÃO.
O plano tem como foco as províncias do Leste de Angola, mais precisamente a Lunda-Norte, Lunda-Sul, Moxico e Cuando-Cubango, servindo de incentivo aos fazendeiros de outras paragens, como os do Bié, que apresentam, nos últimos anos, bons indicadores de produção de trigo, milho e arroz.
Em concreto, o PLANAGRÃO prevê financiar 1,7 mil milhões de kwanzas, por via do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), através do Fundo de Desenvolvimento Nacional, e outros 100 mil milhões, por meio do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano.
Ao todo, a iniciativa prevê financiar 2,2 biliões Kz, para potenciar a produção de grãos em Angola, sobretudo arroz, milho, trigo e soja, pelo menos até ao ano 2027.
A ideia das autoridades é reduzir a dependência de Angola da importação destes produtos, principalmente no actual contexto de escassez mundial, provocada pelo conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia, que fazem parte dos oito principais produtores de trigo no planeta.
Com o PLANAGRAO, Angola compromete-se a aumentar a sua produção de arroz, milho, trigo e soja para 6.104.282 toneladas em cinco anos, números muito acima das 3.026.140 produzidas em todo o país, até ao ano 2021.
Dados disponíveis indicam que Angola tem uma produção de trigo ainda abaixo dos 50 por cento da sua capacidade instalada, devido, fundamentalmente, ao excesso de farinha de trigo importada, o que tem resultado na sistemática flutuação do preço do produto.
Actualmente, o trigo ocupa a posição 11 da lista dos 100 produtos que o país mais importa, registando uma média de 46 mil e 455 toneladas por ano.
Só para se ter uma ideia, entre 2014 e 2015, Angola gastou perto de 570 milhões de dólares na compra de farinha de trigo, dos quais 250 milhões para encomendar 470 mil toneladas, em 2014, e 320 milhões para 510 mil toneladas de farinha de trigo, em 2021.
Entretanto, enquanto o país tem défice de produção, o Estado procura reduzir o peso da importação de trigo e de outros produtos, recorrendo à Reserva Estratégica Alimentar (REA), que tem vindo a impactar, positivamente, na baixa dos preços.
A REA é uma iniciativa do Executivo angolano, que prevê, numa primeira fase, adquirir, armazenar e distribuir aos comerciantes grossistas até 354 mil toneladas de bens alimentares, aumentando, progressivamente, para até 520 mil toneladas de produtos.
Para além da importação, boa parte desses bens será produzida e transformada no país, prevendo-se um impacto na redução dos preços em até cinco por cento para o consumidor final. VM