Benguela – Com os olhos postos na exportação, a Fazenda Agro-Pecuária Miuq Royal, no vale do Cavaco, em Benguela, está focada na produção em grande escala de banana, com previsão de colher até três mil toneladas/ano.
Num momento em que a província de Benguela produz cerca de 127 mil toneladas/ano, o empresário Joaquim Vaz Monteiro, 30 anos, proprietário da Fazenda Miuq Royal, investiu mais de meio milhão de dólares na revitalização de um espaço agrícola de 18 hectares no vale do Cavaco e, um ano e meio depois, os resultados já impressionam.
Em declarações à ANGOP, Joaquim Vaz Monteiro fez saber que esse investimento foi destinado, entre outros, para a aquisição de mudas de bananeira do tipo Williams, na África do Sul, desmatamento do terreno, vedação, instalação do sistema de captação de água e de irrigação gota-a-gota.
O jovem empreendedor justifica a preferência pelas plantas melhoradas sul-africanas, em detrimento das tradicionais do Cavaco, pela sua qualidade, rápido desenvolvimento – de sete a oito meses - e excelente produtividade, características que a tornam ideal para a exportação.
Dado o curto ciclo de maturação dessa bananeira, comparativamente à normal que produz entre 11 e 12 meses, a fazenda está já a colher os primeiros frutos, mas o empresário reitera a meta de atingir as três mil toneladas previstas anualmente.
Actualmente, um dos três únicos produtores de banana Williams na província, o fazendeiro dá conta da existência de 30 mil pés dessa bananeira de alta produtividade no seu perímetro agrícola, nas margens do rio Cavaco, no bairro do Tchipiandalo, na cidade de Benguela.
“É um projecto novo que começou há um ano e meio”, explicou, avançando que cada planta melhorada custa em média três dólares no mercado internacional, já que produz com mais qualidade, em grande escala e tempo reduzido.
Segundo ele, a produção de banana na Fazenda Miuq Royal já gera renda para 70 trabalhadores directos, entre os quais jovens, recrutados não só no município de Benguela, capital da província, como na Baía Farta e no Cubal.
Rendido à longa tradição do vale do Cavaco, alicerçada na produção de banana – que outrora já era exportada – Joaquim Vaz Monteiro admite que o projecto está no bom caminho e, por isso, espera atingir a meta face aos investimentos feitos até agora.
“Não temos constrangimentos nenhuns (…). Temos tudo bem alinhado para atingir as metas estabelecidas”, reforçou, visivelmente optimista numa safra promissora de banana ao fim de um ano.
Tanto assim que o sistema de bombeamento garante 240 mil litros de água/hora para a irrigação gota-a-gota dos 18 hectares de bananeira, por conta das condições ideais do lençol freático nas margens férteis do rio Cavaco.
Já o fornecimento de energia está assegurado a partir da rede pública e o acesso não constitui nenhum problema, porque a fazenda está localizada a poucos metros da Estrada Nacional EN100, no troço Benguela/Lobito.
Mercado
O produtor anuncia, com um indisfarçável orgulho, o destino da banana colhida na Fazenda Miuq Royal, com primazia para o mercado local e das províncias da Huíla e Cunene, na região Centro-Sul do país.
O próximo passo, aventou, é duplicar a área de produção, numa tentativa de ajudar Benguela a resgatar o título de maior produtora de banana no país perdido há anos para a província do Bengo.
O empreendedor vê na expansão da produção, a partir de 2025, o caminho para a exportação, com destaque para os países vizinhos, como a República Democrática do Congo (RDC), através do Corredor ferroviário do Lobito, embora não descarte o mercado europeu.
Diz que a expectativa é a de que essa aposta venha a incentivar outros agricultores da província de Benguela, principalmente os mais jovens, a apostarem fortemente na cultura da banana, considerada um “ex-libris” do vale do Cavaco.
Da letargia ao dinamismo
Olhando para trás, Joaquim Vaz Monteiro lembra que no espaço que hoje constitui a Fazenda Miuq Royal predominava alguma produção pouco significativa de hortícolas e mangas, o que viria a despertar a sua atenção.
Assim, diz ter iniciado este projecto da estaca zero, com desmatamento e abate de mangueiras, que, devido à sombra, não seriam favoráveis à produção de banana.
Para além disso, dá ainda conta da construção do muro, aquisição das plantas na África do Sul e instalação do sistema de canalização com tecnologia de ponta.
Agora, o empresário mostra-se animado com os resultados já alcançados e que trazem alento por tanto trabalho feito para mudar a realidade do perímetro, onde crescem ainda 700 plantas de mangueiras enxertadas para compensar o desmatamento.
A pecuária é outra aposta do jovem empresário, que revela ter adquirido algumas cabeças de gado bovino de raças diferentes para criação numa área próxima da fazenda, tendo em vista a comercialização.
Sem rodeios, Joaquim Vaz Monteiro “gaba-se” de estar a desenvolver um projecto inovador e sustentável, que irá crescer com o tempo, gerando empregabilidade local e criando, no futuro, um ambiente de lazer para as pessoas.
Nova era
Proprietário da rede de farmácias “Quim Monteiro”, o entrevistado reconhece haver outra visão da parte dos empresários do ramo, à medida que os projectos do Governo para o sector produtivo avançam à “boleia” do Corredor do Lobito.
E ressalta a força de vontade dos homens do campo, ao mesmo tempo que acredita que a cintura verde do Cavaco voltará a ser o pulmão da economia de Benguela, bastando que o Estado apoie os projectos dos agricultores.
“Temos aqui bons e verdadeiros agricultores. Mas, às vezes, não são tidos nem achados”, defende, reconhecendo a experiência e tradição desses agricultores na produção de banana, faltando apenas apoios para que o vale do Cavaco volte aos tempos áureos.
O agora patrão da Fazenda Miuq Royal, cuja façanha no mundo dos negócios começa aos 16 anos, na agricultura, antes de entrar no ramo farmacêutico, olha para o campo como o futuro do país e a via para a diversificação da economia.
Por isso, desafia os outros jovens empreendedores a serem mais persistentes face às dificuldades, começando de pequeno, médio e, pouco a pouco, ir-se transformando em grande. JH/CRB