Benguela - Seiscentas toneladas de tomate estão a ser colhidas na fazenda Indu-Agri, na comuna do Dombe Grande, município da Baía Farta, província de Benguela, soube hoje, quarta-feira, a ANGOP.
Sete anos depois da paralisação da produção de tomate em grande escala na região, devido à virose e praga Tuta Absoluta, que arrasou vários campos de cultivo, a fazenda Indu-Agri está apostada no relançamento da sua produção.
Falando à ANGOP, o sócio-gerente da fazenda, António Noé, disse que, diariamente, estão a colher cerca de 15 toneladas de tomate que têm como destino os mercados de Benguela, Lobito e Luanda.
A Indu-Agri está a produzir numa extensão de 50 hectares e prevê colher ainda, dentro de dias, 70 toneladas de milho, 30 de feijão e duas de pitaia, que se encontra em fase experimental.
António Noé explicou que usam a técnica de rotação de culturas, que permite um processo de produção ao longo de todo ano, estando previsto o plantio de cebola nos próximos meses.
Segundo o responsável, num período de dois anos, já investiu 350 milhões de kwanzas, sendo na totalidade capital próprio.
O produtor referiu que o capital investido permitiu a limpeza da área, montagem de motobombas e instalação de uma conduta de cerca de cinco quilómetros de extensão, a partir do rio Koporolo.
" Tivemos que alugar máquinas para desmatar a zona, trabalhar a terra, adquirir sementes e outros insumos agrícolas, construir um reservatório de água, para além de chafarizes que beneficiam a comunidade da zona adjacente da fazenda", reportou.
A fazenda Indu-Agri controla 200 trabalhadores, entre fixos e eventuais, na sua maioria residentes nos bairros periféricos, cuja remuneração pode chegar a Kz dois mil/dia, sobretudo no período da colheita.
Dificuldades no acesso ao crédito
O empresário agrícola lamentou o facto de não ter beneficiado, até o momento, de nenhum crédito bancário, embora tenha dado entrada do processo de solicitação há mais de um ano, no Banco de Desenvolvimento de Angola.
Na sua óptica, ainda existe muita burocracia neste processo e defende que a banca devia priorizar quem já produz de facto e está empenhado em ajudar o Governo neste desafio que é a diversificação da economia.
"A burocracia que se regista neste processo adia cada vez mais as expectativas de quem quer investir no desenvolvimento do país, porque ninguém cresce só com capital próprio, mas sim com ajuda da banca", desabafou.
António Noé assegurou que, com apoio financeiro, teria um crescimento na sua fazenda de 50 para 100 hectares, e havia de adquirir meios como tractores, estufas para mudas, pequenas máquinas de pulverização e de transformação, construir uma área de conservação dos produtos, evitando-se as perdas.
Questionado sobre quanto seria necessário para duplicar a produção, António Noé adiantou que precisa do equivalente a um milhão de dólares.
Aproveitou para pedir ao Executivo que, dentro das suas políticas de apoio ao sector agrícola, pensasse na importação de pequenas máquinas portáteis que podem permitir transformar duas toneladas por dia de tomate.
Apontou ainda como outra grande dificuldade, a concessão de títulos de terra, que tem sido um problema para os fazendeiros e pequenos agricultores, porque a maior parte não possui esse documento.
" Muita terra está em litígio, com pessoas que alegam a sua titularidade sem nunca produzirem nada. Exorto as autoridades judiciais e administrativas a serem mais céleres na resolução desses processos e a entregarem estes títulos a quem, de facto, produz", enfatizou.
Acrescentou que esta situação dos títulos tem influenciado negativamente no processo de concessão de créditos.
Por outro lado, disse que a comuna do Dombe Grande ficou mais de sete anos sem produzir tomate, devido à praga Tuta, mas, com a aquisição de novas experiências e variedades que estão a adaptar-se ao solo, devido à sua resistência, ela vai ressurgindo.
Hoje, devido às características climáticas da comuna do Dombe Grande, que se assemelha à do Médio oriente, alguns agricultores locais estão a ter bons resultados com a semente de tomate proveniente daquela zona do globo, informou.
Feijão do Dombe Grande exportado para o Congo Democrático
O proprietário da fazenda Indu-Agri disse que os congoleses têm sido os principais compradores do feijão produzido na região.
Segundo o empresário, o feijão é um produto fácil de ser transportado, não se estraga com facilidade, e estes compradores têm estado a incentivar os agricultores, pois, a leguminosa é comprada antes de ser colhida.
António Noé defende que, se a Reserva Estratégica Alimentar for assegurada pela produção nacional, irá incentivar o empresariado porque o país produz muito, mas faltam políticas de protecção.
Quanto a subvenção dos fertilizantes, defendeu que seria bom se Estado comprasse os produttos aos agricultores a um preço justo, porque os fertilizantes subvencionados vão parar no mercado informal e o Estado perde com isso.
Prejuízo
António Noé lamentou a perda, na semana finda, de 400 caixas de tomate que se estragaram no campo por falta de transporte para escoamento, situação que tem causado alguns constrangimentos quando chega a época de colheita.
O empreendedor disse não perceber o porquê da comuna não ter beneficiado de carrinhas para transporte de mercadorias para os grandes centros comerciais, quando é das que mais produz na província de Benguela.
Por outro lado, pediu, a quem de direito, que preste maior atenção aos pólos agrícolas, com a instalação da rede eléctrica, porque só assim haverá desenvolvimento, a olhar pelo impacto negativo com os combustíveis.
Para o empresário, os custos com combustíveis na sua fazenda são bastante altos, uma vez que, diariamente, são consumidos 250 litros de gasóleo.
Na sua visão, a desvalorização da moeda e o elevado custo dos fertilizantes forçou a redução da capacidade de produção, situação que influencia negativamente na economia. CRB