Cunene -A falta de chuvas, em algumas regiões do país, e a irregularidade noutras, contraria as previsões da campanha agrícola 2020/2021, colocando as populações em iminente situação de fome.
Na província do Cunene, apesar das chuvas regulares na cidade de Ondjiva, em várias localidades potencialmente agrícolas a situação é preocupante.
No município de Namacunde, a Angop constatou que a seca começa a afigurar-se como uma realidade, deitando por terra a previsão de colheita de 80 mil toneladas de cereais.
Na região, foram preparados 77 mil e 044 hectares de terra arável, lançada à terra 42 mil quilogramas de sementes de cereais como milho, massango e massambala, por 18 mil e 550 famílias camponesas.
A administradora municipal do Namacunde, Isabel Ndeshiafela, disse que a situação está a preocupar os agricultores, que já anteveem a escassez de produtos.
“Desde a primeira quinzena de Dezembro que não chove, impossibilitando deste modo a conclusão do processo de lavoura”, explicou.
Lembrou que na campanha anterior a colheita foi satisfatória, atingindo 90 porcento da produtividade, mas na falta de reservas alimentares, devido a seca de 2019, muitas famílias irão necessitar de apoios.
Situação idêntica assiste-se nas comunas do Evale, município do Cuanhama, Oshimolo e Ombala Yo Mungo (Ombadja), zonas mais afectadas pela última seca na província.
No geral, segundo a chefe do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) no Cunene, Anita Esperança, a província prévia para a presente campanha, a colheita de seiscentas e 20 mil toneladas de massango, massambala e milho.
Na campanha agrícola 2019/2020, Cunene preparou 250 mil hectares de terras, distribuídos por 120 mil famílias camponesas, onde se colheram 85 mil toneladas de milho e massango, das 500 mil toneladas previstas.
Benguela com 50 por cento da safra comprometida
Em Benguela, a sul do litoral angolano, cerca de 50 por cento da produção agrícola, dos 114 mil 246 hectares cultivados na época agrícola 2020/2021, encontra-se já comprometida, devido a falta de chuvas, ou meios técnicos para irrigação.
Segundo o vice-presidente da União Nacional da Associação dos Camponeses (UNACA), Araújo Duarte Miguel, que não evitou perspectivas da campanha agrícola devido a seca, a esperança reside na segunda fase da época agrícola, que anualmente tem início em Fevereiro.
“Há garantias de que as autoridades do sector da agricultura, por meio da Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA) contam com algumas sementes para salvar a época, em caso de haver chuvas nos próximos meses”, afirmou.
Adiantou que nesta campanha estão envolvidas 262 cooperativas, que perfazem 27 mil 487 associados, dos quais 13 mil 426 são mulheres.
Umas das alternativas para contrapor a situação actual, de acordo com o responsável, passa pela solicitação de créditos bancários, por parte dos agricultores, com vista a aquisição de meios de irrigação, nomeadamente electrobombas, já que a agricultura na região de Benguela é essencialmente de “sequeiro”, ou seja, depende das chuvas.
Chuva tímida na Huíla
Na Huíla, a falta de chuva causou, na primeira fase da época agricola, prejuízos em quase 70 por cento da produção nos mais de 201 mil hectares cultivados
Em nenhum dos 14 municípios da Huíla chove desde 20 de Dezembro, mas as irregularidades das quedas pluviais já se arrastam desde Outubro, estando apenas livre do estrago pequenas quantidades de culturas de regadio, à volta de 60 mil hectares.
Ao todo, foram lançadas sementes em 201 mil e 768 hectares, do total de 605 mil e 304, que vai compreender as três fases da campanha para lavoura até ao final do processo.
A previsão era colher 169 mil e 385 toneladas na primeira fase, que termina nesse Janeiro, mas nas três a meta seria atingir as 508 mil e 157 toneladas de produtos diversos.
Em declarações à ANGOP, o director provincial da Agricultura, José Arão, disse ser notório o fenómeno em toda província, causando um défice na irrigação de culturas, sendo que na primeira fase da campanha o impacto é negativo.
Destacou que estão no terreno várias equipas para efectuar um levantamento da real situação.
Sublinhou que a nível da província, 80 por cento das 213 mil 868 famílias de camponeses, já estão a ressentir o efeito da falta de chuvas.
Explicou que, para mitigar a situação, o governo provincial está a trabalhar no sentido de aprimorar os pequenos sistemas de irrigação, nomeadamente com a melhoria de açudes.
Virei preocupa no Namibe
No município do Virei, província do Namibe, cerca de quatro mil pessoas estão afectadas pela seca e a fome, enquanto mais de quinhentas cabeças de gado bovino e caprino correm o risco de perecer.
A ausência das chuvas está a impossibilitar a prática da agricultura e a perigar a sobrevivência do gado.
A saúde dos animais já inspira cuidados, pois muitos já estão debilitados por falta de água e pasto.
Em declarações à ANGOP, o seculo Mabaculato Muchinda disse que a situação tende a agravar-se a cada dia que passa, pois nem mesmo os furos e sistemas de água construídos pelo governo possuem água.
“Os animais estão bastante debilitados, que nem dão para trocar com bens alimentares”, lamentou.
Afirmou que só se consegue um pouco de água para beber e confeccionar os alimentos.
O administrador municipal do Virei, Lénine dos Santos, afirmou que se até Fevereiro não cair chuva a situação da seca e da fome vai agravar-se.
Informou que os sistemas de água construídos e reparados no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) também já registam escassez de água.
Por seu turno, a directora do Gabinete da Família, Promoção da Mulher e Acção Social, Natália de Carvalho, adiantou que o governo do Namibe e ONG's têm ajudado a população carenciada quando existe disponibilidade de bens.
Esperança em Cabinda
Mas ao norte do país, a província de Cabinda ainda prognostica uma época agrícola exitosa.
O secretário provincial da agricultura, André Fuca, afirmou que a campanha agrícola não será comprometida, em função das chuvas que começaram a se fazer sentir.
"A campanha agrícola deste ano não está ainda comprometida, mesmo que a safra desta primeira época conheça alguma baixa", assegurou.
Confirmou que nada foi ainda colhido nesta primeira fase da campanha, devido aos sinais da seca, evidentes nos dois últimos meses.
Cento e 80 hectares de terra foram mecanizadas na zona agrícola de Tendequela, sul do município sede de Cabinda, beneficiando 35 mil famílias.
No espaço prevê-se uma produção de 700 toneladas de produtos diversos com destaque para a mandioca, amendoim, batata-doce, inhame, feijão, frutas e hortícolas.