Luanda – A produção da mandioca, na província de Malanje, duplicou de 10 para 20 toneladas por hectar, a nível da agricultura familiar, fruto da implementação de metodologias das Escolas de Campo (ECA).
Segundo o coordenador do Projecto de Desenvolvimento da Agricultura Familiar e Comercialização (MOSAP II), em Malanje, Paulo Sozinho, há dez anos, a produção da mandioca no seio familiar variava entre 5 a 10 toneladas/hectar.
Em declarações à ANGOP, à margem do workshop sobre “Escolas de Campo de Agricultores: Aprendizagem e Inovações”, o também engenheiro agrónomo sublinhou que, actualmente, há casos de camponeses que chegam a produzir perto de 30 toneladas de mandioca/hectar, em função das metodologias da ECA.
Para o especialista, as Escolas de Campo, que instruiram os camponses a desenvolver diversas culturas de forma adequada, constituiram-se um dos principais meios de transmissão de conhecimentos técnicos e práticos para os agricultores familiares.
Fruto disso, narrou, os produtores que “não tiveram oportunidade de estudar” consideram a ECA como instrumento de aprendizagem, por permitir melhorar as técnicas de produção, particularmente, na cultura da mandioca, além de integrar o cultivo de hortículas, batata rena e frutas, particularmente em Malanje.
O surgimento de novas cooperativas, aumento do volume de produção, orientado para o mercado, e a mudança das condições socioeconómicas das famílias, também fazem parte dos ganhos das Escolas de Campo.
Constam ainda dos benefícios das escolas, a melhoria da organização dos sistemas produtivos nas comunidades beneficiárias, o acesso ao crédito bancário e aos insumos, assim como a melhoria da forma de negociação dos produtos dos camponeses.
Com a perspectiva de se criar 20 mil ECA, nos próximos cinco anos, o país conta com perto de seis mil escolas, dos quais 1 248 estão instaladas em Malanje, distribuidas em 14 municipios e em 30 comunas desta província, conforme o coordenador do Projecto de Desenvolvimento da Agricultura Familiar e Comercialização (MOSAP II), Paulo Sozinho.
Em curso há 10 anos no país, as Escolas de Campo constituiram-se na principal ferramenta do Serviço de Extensão Agro-pecuário do país, por intermédio do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), contando com apoio técnico da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), entre outras organizações.
“Chitaka” reforça ECA
No quadro da resposta à seca no sul de Angola e contínua melhoria dos métodos produtivos, o Ministério da Agricultura e Pescas (Minagrip), em parceria com a FAO, recorreu ao mecanismo tradicional de cultivo “Chitaka” para acelerar o processo de formação dos agricultores familiares nas ECA e atender as questões imediatas de segurança alimentar e nutricional, com foco nas crianças e mulheres.
Iniciada no dia 15 de Fevereiro de 2022, na Huíla, a ferramenta Chitaka visa, essencialmente, aumentar o rendimento das famílias, com a diversificação produtiva (ovos, hortícolas, milho, massango e fruteiras), bem como melhorar as práticas do sistema produtivo integrado (plantas e animais).
A produção intensiva de alimentos, com ciclos curtos, e a prática da agricultura climaticamente inteligente (gestão de água, solos e sistema de rega gota-a-gota) também constam dos objectivos da Chitaka.
Ao fazer a apresentação desse projecto, no workshop sobre “Escolas de Campo de Agricultores: Aprendizagem e Inovações”, decorrido esta terça-feira, em Luanda, o assistente de programas da FAO, Anastácio Gonçalves, exemplicou que a implantação de uma Chitaka pode ser feito, com um investimento de cerca de 2 936 784 de kwanzas, mas a receita poderá superar o investimento e passar para cinco milhões de kwanzas, somente com a produção de ovos e hortícolas, logo no primeiro ano.
Na ocasião, esclareceu que o retorno do investimento pode acontecer de modo sustentável, no terceiro ano do projecto, constituindo-se num forte indicador para programas de crédito para a agricultura familiar.
De acordo com o também engenheiro agrónomo, a Chitaka permite produzir mais de 10 toneladas de alimentos/ano, bem como seria capaz de gerar receitas na ordem dos dois milhões de kwanzas por ano (169 mil kwanzas/mês), num quadro em que 50% dos alimentos são direcionados à família.
Concluiu que, para a realidade de Angola, em que a exploração familiar é inferior a dois hectares, a Chitaka surge como uma alternativa de mudança de paradigma e de inovação dos sistemas de produção familiar, com mais produtividade, mais rendimentos, alimentos saudáveis e amiga do ambiente.