Benguela – A retoma das exportações de banana, na província de Benguela, depende de investimentos na melhoria da qualidade da produção, defendeu, nesta quarta-feira, o agricultor Raúl Galvão.
Graças à reabilitação de canais de irrigação nos principais vales da província, como o túnel de transferência do rio Halo para o do Cavaco, Benguela viu aumentar significativamente a sua produção de banana nos últimos anos.
Em 2016, verificou-se uma produção de 15 mil toneladas de banana, e este volume subiu para 127 mil toneladas no ciclo 2022/23, numa área de cerca de 1.835 hectares, um sinal positivo que reflecte o empenho do sector empresarial e familiar na região.
Mas, hoje em dia, exportar banana na província de Benguela é "quase uma miragem", não obstante que a fazenda Agro-Industrial Bacelinho, no município do Lobito, tivesse despachado, a 25 de Maio de 2016, doze toneladas de banana verde para Portugal.
Em entrevista à ANGOP, o agricultor e presidente da Cooperativa Agro-pecuária Ondjali, no perímetro do Cavaco, Raúl Galvão, assevera que são necessários investimentos para que a banana cumpra com as exigências do mercado internacional.
Como os parâmetros internacionais determinam as características do produto, como tamanho do cacho, ele insiste no financiamento aos produtores, de tal sorte que a qualidade da banana seja aceitável para exportação.
Só assim é que aquele produtor acredita que Benguela possa vir a retomar de maneira sustentável as exportações de banana para o mercado internacional, com primazia para Portugal, Holanda e quiçá os Estados Unidos.
Embora a exportação seja um sonho dos produtores, na tentativa de conseguir divisas, Raúl Galvão admite, porém, que a banana de Benguela está boa para o consumo interno, mas ainda lhe faltam alguns requisitos para o mercado internacional.
“Quando se fala de exportação, é banana seleccionada e um campo bem trabalhado (…) ”, reforçava o agricultor, acentuando que, sem o apoio do Estado, a retoma das exportações da banana, produzida em Benguela não passará de um sonho.
Para o líder desta cooperativa, com 51 agricultores, num total de 500 trabalhadores, na sua maioria mulheres, o facto de que a banana William – a mais aceite no estrangeiro – ter tido boa adaptação ao clima de Benguela, não é suficiente.
Olhando para o passado, ele recorda que os produtores do Cavaco exportavam banana de boa qualidade para o mercado internacional, pois havia muitos apoios.
“Na altura, havia a Cooperativa Complexo do Cavaco. Não era qualquer banana. Havia a banana comercial para consumo interno e havia outra destinada ao mercado internacional”, contou.
Por isso, sinaliza que, com mais investimentos, pode-se regressar aos tempos áureos e fazer exportação da banana, quer a variedade Cavaco ou William, dentro dos padrões internacionais.
Com as atenções dos produtores no mercado europeu, com primazia para Portugal, Raúl Galvão adianta que existe, afinal, um contrato com os holandeses.
"Eles só querem a banana, o mamão e a manga do vale do Cavaco”, sustentou.
Sobre o mercado americano, considera uma janela aberta, mas lembra que ainda são muito mais rigorosos, sobretudo nos padrões de fertilização da terra.
“Qualquer produto químico que encontrarem na banana, já não é aceitável. Podemos perder o certificado”, alerta. E, mais uma vez, assinala a ideia de mais investimentos na qualidade da produção interna.
E a receita, disse, passa por investir fortemente na nossa produção. Pelo contrário, frisou, vamos esquecer a exportação. É um sonho”.
Dificuldades
Ele também dá conta de que os produtores do Cavaco têm enfrentado dificuldades com os altos custos da produção, por conta da subida galopante dos preços dos insumos e dos combustíveis.
As dificuldades dos produtores são tantas – alguns andam endividados com os bancos, pelo que muitos têm optado por usar estrume de vaca em detrimento do adubo químico, que, por sua vez, tem maior rendimento e produtividade.
“Eu não recebi financiamento nem apoio de ninguém e [como] vou fazer uma banana para exportação?”, interroga o produtor, enfatizando que, do jeito que as coisas estão, é muito difícil para um produtor local pensar já em exportar.
Raúl Galvão aponta também o dedo aos combustíveis, porque encareceu a produção e pede que o Governo ajude na instalação de postes de transformação de energia nas fazendas, visto que o Cavaco já está electrificado.
“No passado tínhamos o problema da estiagem, mas graças a Deus passou aqui o governador Isaac dos Anjos que olhou para o nosso vale”, notou.
Mercado interno
Ainda indicou a cidade do Lubango, na vizinha província da Huíla, como o principal mercado da banana de Benguela.
“Só precisamos de uma certificação da Agricultura e o produto está pronto para ser consumido internamente”.
Raúl Galvão pensa que os investimentos feitos no Perímetro Irrigado de Caxito, na província do Bengo, maior produtora de banana no país, deviam ser replicados em Benguela.
Diferente de Benguela, Raúl Galvão observa que no Perímetro Irrigado de Caxito o investimento foi tal, que nenhum agricultor trabalha com motobombas.
“Alguma vez já visitou o Bengo? Vai lá ver como foi o investimento de milhões de dólares. Tem energia eléctrica e aquele vale que tem água de graça para os produtores”, assinalou.
Já no Cavaco, reclamou da falta de financiamento para produção da banana e, como consequência, cada um trabalha à sua maneira, com recurso a motobomba, porque tem um caudal freático muito bom.
Mercado regional - uma alternativa
Por outro lado, afiança que a banana do Cavaco está, aos poucos, a entrar na Namíbia e há boas perspectivas para chegar à República Democrática do Congo, através do Corredor do Lobito.
“Tive contacto com compradores da República do Congo e eles querem usar o Corredor do Lobito”, referiu, garantindo estar disponível porque só quer vender.
Na sua opinião, quanto mais mercado houver, maior será a produção, principalmente se o preço for bom. JH/CRB