Adis Abeba - Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Burkina Faso, Guiné e Mali, nações governadas por juntas militares após vários golpes de Estado, pediram à União Africana (UA) que levante as suas suspensões como Estados-membros da organização.
"Os três chefes da diplomacia expressaram ao presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, e ao comissário de Assuntos Políticos, Paz e Segurança da Comissão da UA, Bankole Adeoye, a frustração dos seus povos com a manifesta falta de apoio da UA num contexto difícil, caracterizado por ataques de grupos terroristas e de populações deslocadas tanto no Burkina Baso quanto no Mali", afirmou o governo de Burkina Faso num comunicado emitido a partir da capital da Etiópia, Adis Abeba, sede daquela organização africana.
Os chefes da diplomacia do Burkina Faso, Olivia Rouamba, da Guiné, Morissanda Kouyate, e do Mali, Abdoulaye Diop, pediram à UA que "reconsiderasse" as suas admissões ao bloco.
O pedido foi apresentado no quadro da 42.ª sessão ordinária do Conselho Executivo da UA, constituído pelos ministros dos Negócios Estrangeiros e outros representantes dos Estados-membros, antes da 36ª cimeira ordinária de chefes de Estado e de Governo da organização, que tem lugar este fim-de-semana em Adis Abeba.
"Achamos inconcebível que questões relacionadas com a segurança e acção humanitária na África Ocidental sejam discutidas sem a presença de Burkina Faso e Mali", lamentou Rouamba.
"Pedimos que se preste atenção ao sofrimento dos nossos povos e, consequentemente, se apoiem os governos de transição nos seus esforços para restaurar as condições necessárias para o retorno à ordem constitucional", acrescentou o ministro do Burkina Faso.
Além disso, afirmaram ter "um cronograma bem definido e uma agenda transparente".
Os chefes da diplomacia de Burkina Faso, Guiné e Mali realizaram no início deste mês uma cimeira em Ouagadougou, na qual acordaram unir esforços para tentar a reintegração na União Africana.
Num comunicado conjunto divulgado após aquela cimeira de 10 de Fevereiro, que decorreu na capital do Burkina Faso, os três países afirmaram que "coordenam esforços e levam a cabo iniciativas comuns para a retirada das medidas de suspensão e outras restrições", incluindo as sanções económicas impostas contra os três Estados que sofreram golpes de Estado.
Na nota referiram também que as medidas da União Africana (UA) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "atingem populações já afectadas pela insegurança e instabilidade política" e "privam" ambas as organizações "do contributo dos três países, necessário para vencer os grandes desafios".
Os ministros sublinharam que estas medidas "representam um ataque contra a solidariedade sub-regional e africana, que representa o ponto essencial da integração, cooperação regional e continental".
"As decisões de suspensão impedem a participação destes países nos órgãos da CEDEAO e da UA, em particular naqueles que abordam grandes desafios, como a segurança, questões humanitárias e desenvolvimento económico duradouro", realçaram ainda na declaração conjunta, assinada pelos três ministros.
"No quadro da luta contra a insegurança na faixa sahelo-sahariana, as delegações do Burkina, da Guiné e do Mali salientam a necessidade de conjugar os seus esforços e os dos países da sub-região e da região para fazer face a este flagelo", alertaram.
Nesse sentido, apelaram à "coerência" nas acções "a nível regional, com base nas operações bilaterais já em curso", ao mesmo tempo que apontaram a "institucionalização de um quadro permanente de concertação entre os três países" e o lançamento de "consultas políticas e diplomáticas de alto nível no eixo Bamako-Conacri-Ouagadougou".
Finalmente, os chefes da diplomacia dos três Estados reafirmaram o seu "compromisso" com "os objectivos e princípios da CEDEAO e da UA" e de "responder às aspirações das populações" dos três países, incluindo com programas "para o desenvolvimento do comércio, transportes, obtenção de necessidades, transformação profissional, desenvolvimento rural, mineração, cultura, artes e luta contra a insegurança".
No Mali houve um golpe em Agosto de 2020 liderado pelo coronel Assimi Goïta, que protagonizou outro golpe em Maio de 2021 após desentendimentos com o governo e actualmente é o presidente transitório do país.
A Guiné é liderada pela junta militar chefiada pelo coronel Mamadi Doumbouya desde 5 de Setembro de 2021, desde o golpe de Estado nesse país.
A junta militar do Burkina Faso é agora liderada pelo capitão Ibrahim Traoré, que protagonizou um golpe palaciano em Setembro de 2022 contra o até então líder, tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, que já tinha realizado um golpe oito meses antes.
Esses golpes militares levaram a UA a suspender a participação dos três países como Estados-membros.JM