Djamena - O líder da oposição à junta militar no Tchad recebeu esta sexta-feira o apoio de centenas de pessoas após ser convocado pelo Ministério Público, alguns dias depois de uma manifestação não autorizada e reprimida, segundo a agência AFP.
Succès Masra, 39 anos, é o presidente do Transformers, partido que integra uma coligação de oposição política e da sociedade civil que boicota um diálogo de reconciliação nacional lançado há 20 dias pelo autoproclamado presidente e chefe da junta, o general Mahamat Idriss Déby Itno.
Itno está no poder desde a morte do seu pai, Idriss Déby Itno, que foi assassinado em Abril de 2021, a caminho da frente contra a rebelião armada.
O novo homem forte de N'Djamena tinha prometido devolver o poder aos civis no prazo de 18 meses através de eleições "livres e democráticas", após um diálogo nacional "inclusivo", mas este fórum foi adiado várias vezes e ainda não começou o seu trabalho de fundo, sendo boicotado pela maioria da oposição política e civil e por pelo menos dois dos mais poderosos grupos rebeldes armados, que denunciam um "monólogo" da junta.
Masra disse à AFP que tinha recebido na quinta-feira uma citação do procurador do Ministério Público em N'Djamena, a convocá-lo para a manhã de hoje, mas sem informar o motivo.
"Estarei presente, (...) irei marchar e cantar pela liberdade do povo, mas não estarei sozinho", disse hoje o opositor, através de uma mensagem na rede social Twitter.
Cerca das 08h00 local, Masra saiu de casa, assistiu a duas orações - muçulmana e cristã - no meio de várias centenas dos seus apoiantes. Instou-os "a não assobiarem, a caminharem com dignidade, a respeitarem a ordem e a não tocarem em nada", antes de se dirigir, à chuva, primeiro a pé e depois de carro, para o tribunal, à frente de uma longa manifestação de apoiantes, relatou um correspondente da AFP no local.
Em frente ao tribunal foi destacado um forte contingente policial, adiantou a AFP.
A convocação surgiu seis dias após as manifestações violentamente reprimidas pela polícia e pelo exército e a um cerco de quatro dias pelas forças de segurança ao partido Transformadores.
Masra e os seus apoiantes denunciam um Diálogo Nacional Inclusivo e Soberano (DNIS), aberto em 20 de Abril pelo general Mahamat Déby. Segundo eles e a plataforma da oposição Wakit Tamma, este diálogo de cerca de 1.400 participantes, supostamente representando todos os chadianos, apenas reúne apoiantes e próximos do Governo ou de organizações "mobilizadas".
Cerca de 200 apoiantes de Masra foram presos durante os quatro dias de manifestações, dispersas sistematicamente com gás lacrimogéneo, tendo sido libertados no domingo.