Kinshasa - O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, chegou hoje a Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDCongo), onde as autoridades e a sociedade civil esperam que condene o apoio do Ruanda a uma rebelião activa na região leste do país.
Blinken chegou ao aeroporto de Ndjili e foi recebido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros congolês, Christophe Lutundula, nesta que é a segunda paragem de uma viagem ao continente africano, anunciou a presidência da RDCongo.
O chefe de estado congolês, Felexi Tshisekedi, discutirá com o chefe da diplomacia norte-americana as tensões entre a RDCongo e o vizinho Ruanda, acusado de apoiar os rebeldes do "Movimento 23 de Março" (M23), o que o Governo ruandês nega.
Numa declaração, 19 organizações congolesas e americanas apelaram a uma firme condenação de Kigali (Ruanda) por parte de Blinken.
"Antony Blinken deve deixar claro que os Estados Unidos imporão sanções específicas a funcionários governamentais e outros que apoiam grupos armados que cometem abusos" no leste da RDCongo, escreveram as organizações.
Para o padre Rigobert Minani Bihuzo, do Centro de Estudos da Acção Social (Cepas), um dos signatários do documento, "o secretário Blinken deve informar o Presidente ruandês, Paul Kagame, que os Estados Unidos não tolerarão qualquer apoio ao M23, como fez o Presidente Barack Obama, em 2012".
Por seu lado, a organização Human Rights Watch (HRW) indicou que o chefe da diplomacia norte-americana deveria, durante as suas visitas ao Ruanda e à RDCongo, "expressar claramente as verdades inconvenientes", "condenar publicamente os ataques do M23 nos termos mais fortes" e "avisar o Ruanda das consequências do seu apoio ao M23".
"Tal como em 2012, o M23 está a cometer crimes de guerra contra civis" no leste da RDCongo, disse a organização de direitos humanos, acrescentando que "testemunhas descreveram execuções sumárias de pelo menos 29 pessoas".
O M23 é uma antiga rebelião dominada pelos Tutsi que foi derrotada em 2013 e voltou a pegar em armas no final do ano passado, culpando Kinshasa por não respeitar os acordos sobre a desmobilização e reintegração dos seus combatentes.
Num relatório de 131 páginas ao Conselho de Segurança da ONU, vários peritos disseram que as tropas ruandesas têm intervindo militarmente no interior da RDCongo desde Novembro de 2021.
O Ruanda também "providenciou reforços de tropas" para operações M23 específicas, "particularmente quando estas se destinavam a apreender cidades e áreas estratégicas", indicou o relatório dos peritos.
Kinshasa e Kigali mantêm relações tensas desde o afluxo maciço de Hutus ruandeses acusados de massacrar Tutsis durante o genocídio ruandês de 1994.
As relações começaram a descongelar depois de Tshisekedi ter chegado ao poder em 2019, mas o ressurgimento do M23 reacendeu as tensões.
Blinken deverá viajar para o Ruanda na quarta-feira.