Nairobi - Ruto William prometeu esta terça-feira "trabalhar com todos os quenianos" na tomada de posse enquanto quinto Presidente do Quénia, que marcou o fim de semanas de controvérsia, após uma eleição renhida, mas pacífica, na maior economia da África Oriental.
Com uma das mãos pousada sobre a Constituição e a outra a segurar uma bíblia, o novo Presidente, com 55 anos, prestou juramento no Estádio Kasarani, em Nairobi, comprometendo-se a "defender e proteger" a Lei Fundamental do país, pelo que foi saudado por cerca de 60 mil espectadores e chefes de Estado e de Governo de múltiplos países africanos, reunidos no maior estádio da capital queniana.
"Trabalharei com todos os quenianos, independentemente de em quem votaram", afirmou, no seu primeiro discurso enquanto Presidente, saudando a "ocasião memorável" que a sua investidura representa para o país.
O novo presidente declarou que no processo, o Quénia demonstro maturidade da democracia, a robustez das instituições e a resiliência do povo queniano", aplaudido pela multidão de apoiantes, com vuvuzelas e vestidos de amarelo, a cor do seu partido.
William Ruto, até agora vice-presidente do chefe de Estado cessante, Uhuru Kenyatta, foi reconhecido vencedor das eleições presidenciais de 09 de Agosto pelo Supremo Tribunal queniano na semana passada.
Os juízes rejeitaram unanimemente as acusações de fraude interpostas pelo seu adversário, Raila Odinga, uma figura histórica da oposição no Quénia, actualmente com 77 anos, que concorreu com o apoio de Kenyatta.
Ruto venceu Odinga por cerca de 233 mil votos de diferença, num total de 14 milhões de votos expressos.
Odinga declarou "respeitar" a decisão do Supremo Tribunal, apesar de "discordar" da mesma e não compareceu hoje à cerimónia de tomada de posse.
As eleições foram acompanhadas de perto pela comunidade internacional, que as avaliou como genericamente livres e justas, sem a ocorrência de eventos violentos como os que marcaram todas as eleições presidenciais anteriores no Quénia.
Não obstante o clima aparente de paz, muitos analistas consideram que Ruto herda um país profundamente dividido, em resultado de uma campanha tensa e recheada de acusações recíprocas entre os dois principais contendores, num contexto de relativa apatia dos eleitores - cuja maioria de afastou das urnas - e quando o país enfrenta uma inflação elevada e uma dívida que atingiu 70 mil milhões de euros, cerca de 67% do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em 106,04 mil milhões de dólares em 2021, montante que o coloca entre os dez maiores do continente africano.
Proveniente de uma família modesta antes de se tornar um dos homens mais ricos do país, o novo Presidente apresentou-se a estas eleições como um arauto do "empreendedorismo", prometendo criar empregos e combater a inflação, que, à semelhança do que acontece em todo o mundo, está a atingir os combustíveis, produtos alimentares e bens de primeira necessidade, sementes e fertilizantes.
O novo vice-presidente, Rigathi Gachagua, sublinhou hoje que a nova administração herda uma "economia delapidada".
"Estamos a viver acima das nossas possibilidades. Esta situação tem de ser corrigida", disse também Ruto William.
Para tirar o país do "abismo económico" em que se encontra, Ruto prometeu durante a campanha e reiterou hoje a intenção de criar um "fundo dos engenhosos" de 50 mil milhões de xelins quenianos (cerca de 410 milhões de euros) para conceder empréstimos a pequenas empresas. Hoje prometeu reduzir para metade o preço dos fertilizantes "até à próxima semana".
Mas "governar" será "mais difícil do que fazer campanha", avisa o International Crisis Group (ICG).
"É importante que o Presidente eleito se mantenha fiel à sua promessa de trabalhar com os rivais através da partilha política de poder. As eleições de 2022 no Quénia foram um sucesso e um exemplo para a região. Para Ruto, contudo, atendendo às enormes expectativas do povo e à economia em terríveis dificuldades, governar pode muito bem revelar-se mais difícil do que fazer campanha", afirma o instituto de análise com sede em Bruxelas.