Nairobi - O Quénia reiterou a sua disponibilidade para ajudar em iniciativas de paz no Sudão, após acusações de Cartum de que Nairobi tinha infringido a sua soberania ao acolher uma reunião do grupo paramilitar do Sudão, a Força de Apoio Rápido (RSF), noticia hoje o Ghanaian Times.
O Sudão condenou a decisão do Quénia de realizar a reunião na terça-feira, rotulando-a como um "acto de hostilidade", especialmente porque ocorreu pouco antes de a RSF revelar um governo paralelo.
O vice-comandante da RSF, Abdel-Rahim Hamdan Dagalo, liderou uma delegação sudanesa no Centro Internacional de Conferências Kenyatta, em Nairobi, onde indicou que um anúncio importante seria feito na sexta-feira.
Em resposta, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Quénia enfatizou o seu papel no acolhimento de numerosos refugiados sudaneses e o seu empenho em facilitar o diálogo “sem quaisquer segundas intenções”.
Kisemei Mutisya, professor da Universidade Internacional de Riara, alertou que o Quénia pode enfrentar o isolamento internacional.
Salientou que o país é visto como apoiando uma facção rebelde que se opõe ao regime “legítimo” de Cartum.
“Qualquer esforço para minar ou interferir de forma pouco diplomática, como o Quénia parece estar a fazer, poderia fornecer ao Sudão motivos para levar o caso ao Tribunal Internacional de Justiça”, afirmou.
O conflito em curso no Sudão entre os militares e as RSF resultou em mais de 24 mil mortes e desalojou mais de 14 milhões de pessoas - aproximadamente 30% da população, segundo as Nações Unidas.
Cerca de 3,2 milhões de sudaneses fugiram para os países vizinhos.
As autoridades sudanesas informaram terça-feira que os recentes ataques da RSF custaram a vida a mais de 400 civis, incluindo crianças, depois de o grupo paramilitar ter sofrido uma derrota significativa às mãos do exército sudanês.
Haydar Abdul Karim, um activista pela paz e jornalista sudanês que vive actualmente no Quénia, apelou a que os governos regionais se mantenham neutros.
Manifestou preocupação pelo facto de muitos políticos estarem a tentar legitimar os esforços da RSF para estabelecer um novo governo, o que poderá levar a mais divisões no Sudão. JM