Addis Abeba - O chefe de Estado senegalês e presidente rotativo da União Africana (UA), Macky Sall, descreveu esta quarta-feira a crise alimentar mundial que afecta África como algo "da maior urgência" e defendeu o fim da dependência alimentar do continente.
"É evidente que esta prioridade se tornou um assunto da maior urgência, uma vez que os nossos países estão a experimentar toda a força das alterações climáticas, a pandemia de covid-19 e uma grande guerra (Rússia-Ucrânia)", disse Sall no seu discurso de abertura na Cimeira Africana da Alimentação de Dakar 2, que está a ser realizada em Diamniadio, uma cidade em construção a cerca de 36 quilómetros da capital senegalesa.
Acrescentou que “se adicionarmos a escassez de fertilizantes e o aumento dos preços (...), esta crise sem precedentes desafia-nos sobre a urgência de o nosso continente acabar com a sua dependência alimentar do mundo exterior".
Durante o seu discurso, Sall salientou que "a África deve aprender a alimentar-se a si própria e a contribuir para alimentar o mundo".
A este respeito, recordou o potencial agrícola do continente africano, com mais de 65% das terras aráveis inexploradas do mundo.
Sall recordou o "compromisso voluntário" exigido na sequência do acordo dos chefes de Estado e de Governo africanos na Declaração de Maputo de Julho de 2003, de consagrar pelo menos 10% do orçamento nacional ao sector agrícola.
Por seu lado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou hoje a necessidade de se concentrar na transformação do sistema alimentar no continente africano.
Guterres apelou à "plena implementação da Área de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA), com o seu enorme potencial para aumentar a produtividade agrícola, criar cadeias de valor agrícola e expandir o comércio, incluindo o comércio intra-africano".
Também salientou a necessidade de trabalhar para resolver "urgentemente" a crise no mercado global de fertilizantes.
"A escassez global de fertilizantes transformar-se-á rapidamente numa escassez global de alimentos este ano", advertiu Guterres.
Sob o tema "Alimentar África: Soberania e Resiliência Alimentar", este fórum decorre até sexta-feira e reunirá mais de 20 chefes de Estado e de Governo, bem como o sector privado, agências da ONU e ONG no Centro Internacional de Conferências Abdou Diouf (CICAD), em Diamniadio.
Esta cimeira de alto nível foi organizada pelo Senegal e pelo Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) para procurar soluções para o desafio da segurança alimentar em África e para reforçar a resistência a futuras crises.
Esta é a segunda edição da cimeira, a seguir à que se realizou em Dacar em 2015, que adoptou a estratégia do BAD "Feed Africa: Strategy for the Transformation of Agriculture in Africa (2016-2025)".
O continente africano tem 65% das terras mais aráveis do mundo e recursos hídricos abundantes, com potencial para alimentar 9 mil milhões de pessoas no mundo até 2050, de acordo com o BAD.
Só as suas vastas áreas de savana estão estimadas em 400 milhões de hectares, dos quais apenas 10% são cultivados.
Segundo o BAD, com a eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento agrícola e a ajuda de novos investimentos, a produção agrícola africana poderia aumentar de 280 mil milhões de dólares por ano para 1 bilião de dólares até 2030.