Joanesburgo - O Presidente da África do Sul negou hoje ter interferido no funcionamento do aparelho judiciário, respondendo, assim, às acusações da oposição, que o responsabilizam pela demora na apresentação do relatório final da investigação sobre a suposta corrupção no país.
"A Presidência rejeita as alegações de que o Presidente interferiu, de alguma forma, no trabalho da comissão judiciária, como especularam alguns partidos da oposição", afirmou o gabinete de Cyril Ramaphosa, em comunicado.
A comissão, chefiada pelo juiz Raymond Zondo, está a investigar denúncias de corrupção durante o mandato do ex-presidente Jacob Zuma e, embora tenha apresentado vários relatórios parciais, a publicação do relatório final tem sido adiada desde 15 de Junho.
A Presidência sul-africana sublinhou que "ainda não recebeu qualquer tipo de cópia do relatório final da comissão" e acrescentou que o próprio juiz Raymond Zondo comunicou a Cyril Ramaphosa, em 16 de Junho, que havia "um atraso" no documento e que estava a trabalhar para "terminar o relatório o mais rapidamente possível".
"A comissão indicou posteriormente que o relatório electrónico seria entregue ao Presidente durante a tarde de 19 de Junho de 2022, o que, infelizmente, não aconteceu", explicou, ao confirmar um telefonema na segunda-feira entre Ramaphosa e Zondo para abordar a situação.
Por outro lado, salientou que foi acordada a data "provisória" de 22 de Junho para a entrega do relatório e sublinhou que "a Presidência fará um anúncio assim que receber o relatório final da Comissão Judicial de Inquérito em Acusações de Captura do Estado".
As investigações sobre a "captura do Estado" foram lançadas após as acusações de corrupção recolhidas num relatório da ex-Defensoria Pública sul-africana - figura equivalente ao provedor de Justiça - Thuli Madonsela, em que foram detalhadas as suas ligações à família Gupta, com laços com Zuma.
Jacob Zuma foi condenado, em Junho de 2021, a 15 meses de prisão por desacato, por se recusar a testemunhar perante um colectivo judicial que investigava a corrupção durante o seu mandato, e enquanto também enfrentava julgamento por suposta corrupção, por quase 800 pagamentos que supostamente recebeu relacionados com a compra de armas da empresa francesa Thales para modernizar o aparato de defesa do país no final dos anos de 1990.
O ex-presidente do Congresso Nacional Africano (ANC) - partido que liderou entre 2007 e 2017, quando foi afastado em conselho interno por seu vice-presidente e actual presidente, Ramaphosa - foi o primeiro chefe de Estado eleito a ser condenado a prisão.