Doha - O Presidente da República Centro-Africana (RCA), Faustin-Archange Touadéra, acusou este domingo os ocidentais de impedirem o desenvolvimento do seu país, de "alimentar a instabilidade política" e pilhar a riqueza da região.
Numa cimeira dos países menos desenvolvidos (PMD), patrocinada pela ONU em Doha, o chefe de Estado disse que o país era "vítima de objectivos geoestratégicos ligados aos seus recursos naturais", segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
"A República Centro-Africana (RCA) tem sido sujeita, desde a sua independência, a pilhagens sistemáticas facilitadas pela instabilidade política mantida por certos países ocidentais" e "grupos terroristas armados cujos líderes são mercenários estrangeiros", denunciou.
Após a partida do grosso das tropas francesas da RCA, Moscovo enviou "instrutores militares" em 2018 e depois centenas de paramilitares em 2020 a pedido de Bangui.
Um perito independente da ONU sobre a situação dos direitos humanos na República Centro-Africana acusou o exército e os seus aliados russos de abusos contra a população e os oficiais eleitos.
Neste momento, uma missão militar portuguesa das Forças Armadas composta por 125 elementos permanece na RCA, de onde partiram no final do ano passado os últimos 130 militares franceses, após 62 anos de presença contínua.
A França acusa as autoridades de Bangui de estarem aliadas ao grupo paramilitar russo Wagner, que tem ligações ao Presidente Vladimir Putin.
Entretanto, a União Europeia anunciou novas sanções contra o grupo Wagner pelas suas "violações dos direitos humanos" em África, visando vários dos seus altos funcionários na República Centro-Africana, incluindo o "conselheiro de segurança" do presidente Touadéra, membro de Wagner, e o porta-voz do grupo no país.
Depois das acusações, o presidente questionou como é que um país, "dotado de um imenso tesouro geológico", que inclui ouro, diamantes, cobalto, urânio ou petróleo, "continua a ser um dos países mais pobres do mundo, mais de 60 anos após a independência".
Touadéra condenou "o injusto e ilegítimo embargo de armas às forças armadas da África Central e aos diamantes da África Central", bem como "as campanhas de desinformação e demonização de certos meios de comunicação social estrangeiros, a fim de desencorajar os investidores".
O presidente da RCA voltou a apelar ao levantamento da suspensão da ajuda dos doadores como a UE, FMI e o Banco Mundial, e do embargo às armas e diamantes.