Adis Abeba – O director-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o português António Vitorino, propôs mecanismos que permitam às diásporas africanas investir no desenvolvimento do continente.
"O potencial da diáspora é enorme, desde que seja estruturado, organizado com garantias de segurança do investimento, mas pode ser um contributo essencial para o desenvolvimento do continente", afirmou, em entrevista à Lusa, António Vitorino, que esteve em Adis Abeba na 36.ª Cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Africana, que terminou no domingo.
"Nós consideramos que há uma oportunidade de mobilizar as diásporas africanas no mundo inteiro para mais activamente contribuírem e investirem no desenvolvimento dos seus países de origem", afirmou Vitorino.
O responsável recordou que "750 mil milhões de dólares é o valor anual das remessas à escala global e que isso representa mais do que o investimento directo estrangeiro e a ajuda ao desenvolvimento juntos".
Por outro lado, a sua presença na cimeira visou também acompanhar a criação da zona de livre-comércio continental.
"A União Africana tem um projecto muito ambicioso de criação de uma zona de comércio livre no continente e, para esse efeito, há necessidade de proporcionar mobilidade humana", explicou António Vitorino.
"Não se pode separar o comércio da mobilidade humana da migração", recordou, salientando que essa foi também uma "lição da pandemia".
Então, "o mundo parou e havia um custo económico a pagar porque as pessoas não se podiam deslocar".
"Muitas vezes nós esquecemos que 70% dos imigrantes africanos vão de um país africano para outro país africano, apenas 16% dos emigrantes africanos se dirigem para a Europa, o que significa que é um enorme potencial dentro do continente africano em termos de mobilidade humana e de migrações intra-africanas para contribuir para o desenvolvimento da área de comércio livre".
António Vitorino concorre à reeleição no cargo e mostrou-se confiante no apoio dos países africanos.
"A OIM nestes quatro anos em que eu tive a liderança da organização fez um enorme investimento no continente africano" e África é "claramente a prioridade" de gestão.
"E fizemo-lo não porque isso correspondesse a uma agenda da OIM, mas porque isso correspondia às necessidades das pessoas, particularmente dos refugiados e dos deslocados internos, seja por razões de conflito, seja por razões das alterações climáticas, que estão cada vez mais na base da mobilidade humana em África", explicou.
Quanto à sua candidatura, António Vitorino não quis comentar declarações de apoio, limitando-se a dizer: "estou confiante de que o bom trabalho é sempre reconhecido". JM