Bruxelas - O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, referiu na segunda-feira que a mudança na posição do governo espanhol sobre o Sahara ocidental "não contraria" aquela fixada pela União Europeia (UE), que defende uma solução concertada entre as partes.
"A posição da UE continua a mesma, ou seja, o total respeito e apoio às resoluções da ONU", sustentou Borrell após uma reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa que decorreu em Bruxelas.
"Qualquer solução para o problema tem de ser encontrada no quadro das resoluções da ONU, o que, aliás, é também o que diz a carta enviada pelo governo espanhol a Marrocos", acrescentou.
Espanha anunciou na sexta-feira uma alteração na sua posição sobre o Sahara Ocidental, abandonando a tradicional neutralidade para defender a autonomia apresentada por Marrocos.
Numa carta dirigida por Sánchez ao rei Mohammed VI de Marrocos, tornada pública pelo Gabinete Real de Marrocos, a Espanha "reconhece a importância que tem a questão do Sahara para Marrocos" e "considera a iniciativa de autonomia marroquina, apresentada em 2007, como a base mais séria, realista e credível para a resolução deste litígio".
Para a UE a solução "tem que surgir de um acordo entre as partes no âmbito da resolução das Nações Unidas", referiu o diplomata.
"Pelo que li da carta de Espanha, não a contradiz", salientou.
Borrell apontou que, embora a carta espanhola "indique uma preferência" por uma das soluções, o governo de Madrid refere que esta deve ser encontrada "no quadro da ONU" o que é também "exactamente o que defende a UE".
O chefe da diplomacia europeia adiantou que esta questão não foi abordada formalmente no Conselho que decorreu esta segunda-feira, embora tenha falado com o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, de forma informal.
Segundo a nota divulgada pelo Gabinete Real marroquino, na sua missiva ao rei Mohammed VI, Pedro Sánchez destacou os "esforços sérios e credíveis de Marrocos, no quadro das Nações Unidas, para encontrar uma solução mutuamente aceitável" para a disputa com a Frente Polisário pela ex-colónia espanhola.
Espanha, que ainda é considerada a potência administrativa colonial do Sahara ocidental desde que abandonou o território, em 1975, defendeu durante muito tempo que o controlo de Marrocos sobre o Sahara ocidental era uma ocupação e que a realização de um referendo patrocinado pela ONU deveria ser a forma de decidir a descolonização do território.
O representante da Frente Polisário na União Europeia e Europa qualificou esta segunda-feira como um "erro estratégico" a recente mudança espanhola na tradicional neutralidade sobre o Sahara Ocidental, ao "tomar o lado" da proposta marroquina de autonomia.