Maputo - O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, disse hoje, em Maputo, que o périplo que está a realizar em África pretende contrariar um investimento russo em desinformação no continente, onde muitos países se mantêm neutrais face à guerra.
"Sabemos o quanto a Rússia investe em espalhar propaganda e desinformação em África e nós viemos para contar a história verdadeira" sobre a guerra na Ucrânia, referiu aos jornalistas após encontros com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo.
Depois de na quinta-feira, na Etiópia, ter apelado a vários países africanos para abandonem a neutralidade face ao conflito, Kuleba juntou hoje a sua experiência pessoal aos argumentos expostos em ambos os encontros em Moçambique - um dos países que se tem mantido neutro.
A Rússia mantém uma presença substancial em diversas zonas de África, efectuou recentemente manobras militares conjuntas com a África do Sul e Moscovo planeia realizar uma cimeira África-Rússia em Julho.
Vários países africanos abstiveram-se em votações na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que condenavam a invasão russa da vizinha Ucrânia, a 24 de Fevereiro do ano passado - Moçambique foi um deles, assumindo neutralidade e apelando ao diálogo para pôr termo à guerra a partir do seu lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, um mandato de dois anos iniciado em Janeiro.
Tal como já havia dito na quinta-feira, na Etiópia, Kuleba voltou hoje a referir que a neutralidade não é solução, mostrando-se, no entanto, sensibilizado com a solidariedade moçambicana.
Dmytro Kuleba chegou hoje de manhã a Maputo, após uma escala em Joanesburgo, oriundo da Etiópia.
Em poucas horas na capital moçambicana, o chefe da diplomacia ucraniana foi recebido à porta fechada pelo chefe de Estado, Filipe Nyusi, e depois pela ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo.
Nos encontros, os dois países acordaram estreitar relações, com a celebração de acordos bilaterais, a abertura de uma embaixada da Ucrânia em Moçambique e a realização de um fórum de negócios.
Kuleba vai manter outros encontros em Moçambique durante o resto do dia e deixa o país no sábado para continuar o périplo africano, que inclui visitas a Marrocos e ao Rwanda.
A ofensiva militar lançada em Fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas - 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia já matou 8.895 civis e causou 15.117 feridos, também segundo dados da ONU, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais. JM