Rabat - Vários milhares de marroquinos manifestaram-se na noite de domingo em Rabat contra "o custo de vida e a repressão" política após um apelo de organizações de esquerda, num contexto de aumento da inflação e agravamento da crise social.
A marcha nacional, uma das mais importantes dos últimos meses, juntou entre 1.200 e 3.000 pessoas, de acordo com os números divergentes da Direcção geral de segurança nacional (DGSN) e de jornalistas presentes no terreno.
A manifestação foi organizada pela Frente social marroquina (FSM), que agrupa partidos políticos e organizações de esquerda.
"O povo quer a redução dos preços... O povo quer derrubar o despotismo e a corrupção", foram algumas das palavras de ordem ecoadas durante o desfile.
"Viemos protestar contra um Governo que incorpora o casamento do dinheiro e do poder e que apoia um capitalismo monopolista", declarou o coordenador nacional da FSM, Younès Ferachine, citado pela agência noticiosa AFP.
Marrocos regressou "ao nível de pobreza e de vulnerabilidade de 2014", devido à pandemia do covid-19 e da inflação indicou um recente relatório do Alto comissariado do plano (HCP).
O aumento dos preços (+ 7,1 por cento em Outubro num ano), o aumento dos combustíveis, dos géneros alimentares e dos serviços, aliados a uma seca excepcional, afectaram o crescimento do país, calculado em apenas 0,8% para 2022.
O poder de compra da população mais pobre, mas também da classe média, tem-se deteriorado num contexto de profundas disparidades sociais e territoriais.
Os manifestantes, provenientes de todo o reino, também denunciaram "todas as formas de repressão" política, anti-sindical e contra a liberdade de expressão, e quando diversos "bloggers" e jornalistas estão na prisão.
"É uma repressão inaceitável", frisou Ferachine.
Por sua vez, militantes pro-palestinianos insurgiram-se contra a normalização das relações entre o reino alauita e Israel desde Dezembro de 2000, e rejeitada por vastos sectores da população. Numerosas bandeiras palestinianas eram visíveis durante o desfile, indicou a AFP.
Face aos protestos as últimas semanas, o Governo liberal do empresário Aziz Akhannouch - considerado o segundo homem mais rico do país após o rei Mohammed VI - anunciou o prosseguimento da sua "política social", designadamente através de uma generalização da assistência médica para todos.
Desde o início do mês, mais de 10 milhões de marroquinos com rendimentos mais baixos foram admitidos neste programa.
Em Outubro, o Governo também lançou um fundo soberano, avaliado em 4,1 mil milhões de euros, destinado à dinamização do investimento público e ao relançamento da economia do país.