Rabat - O governo de Marrocos voltou hoje (quarta-feira) a rejeitar as acusações de espionagem a várias personalidades, entre as quais o Presidente francês, afirmando tratar-se de "relatos surrealistas" e desafiando o grupo de investigação jornalística "Forbidden Stories" a fornecer provas.
O executivo de Rabat condenou, em comunicado hoje divulgado, o que considera ser uma "campanha mediática mentirosa e mal-intencionada" e voltou a pedir aos autores da investigação - um consórcio de órgãos de comunicação social internacionais - que apresentem provas "tangíveis e materiais".
De acordo com a investigação do 'Forbidden Stories', foram praticados vários atos de espionagem com recurso ao programa informático Pegasus, desenvolvido pela empresa israelita NSO e usado por vários Estados, entre os quais o reino de Marrocos.
O sistema informático visou milhares de telemóveis, para acções de vigilância e espionagem de políticos, jornalistas e ativistas de direitos humanos.
O executivo marroquino, que nunca se refere, no comunicado de hoje (quarta-feira), ao nome do chefe de Estado francês ou a qualquer outra pessoa, considera que está a ser "alvo de ataques odiosos que revelam a vontade de certos órgãos de comunicação social e organizações não governamentais" controlarem o país.
O documento refere ainda que Marrocos optou por agir judicialmente, "dentro e fora do país", contra todas as partes que retomem as "alegações falaciosas", mas não adianta de que forma vai recorrer à Justiça.
A investigação jornalística sobre o programa informático Pegasus, levada a cabo pelo grupo 'Forbidden Stories', revelou na terça-feira que pelo menos um telemóvel de Emmanuel Macron foi espiado a pedido das autoridades marroquinas, assim como os telefones de 14 ministros franceses.
Um número de telemóvel do Presidente da República francês consta da lista de cerca de 50.000 números divulgados pela investigação como tendo sido espiados através do Pegasus.
A notícia sobre Macron foi divulgada pelo jornal Le Monde e pela rádio Franceinfo que integram o 'Forbidden Stories'.
Além do número de telemóvel de Emmanuel Macron, também o número de telefone móvel de Edouard Philippe, antigo primeiro-ministro, e de pelo menos 14 ministros estão na lista que Marrocos vigiou.
Marrocos terá analisado pelo menos 10 mil números de telefones móveis, sendo que cerca de 10% dos números são franceses, entre os quais se encontram vários de jornalistas do portal Mediapart.
O uso do programa Pegasus pelo reino de Marrocos já tinham sido denunciado em 2020 pela organização Amnistia Internacional que chegou a publicar um relatório sobre actos de vigilância aos telemóveis de dissidentes, como o historiador Maati Monjib ou o jornalista Omar Radi, que actualmente se encontra preso.
Esta semana, as novas revelações publicadas inicialmente pelo portal do consórcio 'Forbidden Stories' mostram atividades de espionagem supostamente mais profundas e incluem políticos, jornalistas, advogados e activistas, em vários países e por parte dos Estados que usam o sistema informático Pegasus.
Na terça-feira, a procuradoria de Paris anunciou que vai investigar as várias queixas que foram apresentadas na sequência da divulgação da investigação.