Nova Iorque - O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou-se profundamente preocupado com a deterioração da situação no Sahara Ocidental, apelando aos protagonistas do velho conflito, Marrocos e Frente Polisario, a dialogarem, noticiou a RFI.
Num relatório ainda não divulgado e entregue ao Conselho de Segurança da ONU, Guterres considera que a situação no Sahara Ocidental degradou-se de há um ano para cá devido ao recomeço das hostilidades entre Marrocos e o movimento independentista, Frente Polisario, e à pandemia de covid-19
O secretário-geral das Nações Unidas estimou que estes dois factores "modificaram consideravelmente" a actuação da missão da ONU no Sahara Ocidental (MINURSO), levada a cabo por 235 observadores, limitando a sua capacidade no que diz respeito à execução do mandato.
"Sempre subsiste um risco evidente de escalada, enquanto persistirem as hostilidades", sublinhou, deixando um apelo às partes a apaziguarem a situação e a cessarem imeditamente as hostilidades.
António Guterres destacou a urgente necessidade da retomada do processo político, sugerindo que os dois protagonistas do conflito, marroquinos e independentistas sarauís cheguem a um acordo para a designação de um emissário da ONU, de forma a que seja reactivado o diálogo na região.
No seu relatório, Guterres sublinha que em meados de Novembro de 2020, a Frente Polisario anunciou, após confrontos com Marrocos, que esta não se comprometia mais a respeitar o cessar fogo em vigor desde 1991.
Em Dezembro, também de 2020, os Estados Unidos por intermédio do então presidente Donald Trump, marcando uma ruptura com a anterior posição norte-americana, decidiram reconhecer a soberania de Marrocos a totalidade do território do Sahara Ocidental.
Segundo os analistas, a decisão de Trump foi motivada pelo seu desejo de reaproximar o mundo árabe de Israel.
A nova administração Biden não se pronunciou, até a data, sobre a decisão da sua antecessora.
No final de Agosto de 2021, a Argélia, que apoia a Frente Polisario, cortou relações diplomáticas com Marrocos, nomeadamente devido às posições do reino cherifiano sobre o Sahara Ocidental.
Os independentistas sarauís exigem a organização de um referendo sobre a autodeterminação do Sahara Ocidental, previsto pela ONU, enquanto Marrocos, que controla mais de dois terços da ex-colónia espanhola, propõe um plano de autonomia sob sua soberania.
A ex-colónia do reino de Espanha, no noroeste da África, é reivindicada por Marrocos e pela República Árabe Sarauí Democrática, proclamada em 1976, após a retirada dos espanhóis.
Desde 1976, o Sahara Ocidental, classificado como um território autónomo pela ONU, não possui um estatuto jurídico no concerto das nações.