Lisboa – A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ainda não decidiu sobre o pedido de ajuda de emergência da Guiné Equatorial, 11 dias após as explosões que causaram mais de 100 mortos, disse hoje o representante da presidência cabo-verdiana.
Em declarações à Lusa após a reunião, por videoconferência, do Comité de Concertação Permanente da CPLP (encontro de embaixadores dos nove Estados-membros da organização), o embaixador de Cabo Verde em Lisboa, disse que a solicitação da Guiné Equatorial não foi debatida neste encontro.
"Não. Até porque (...) esta era uma reunião extraordinária, que tinha dois assuntos na agenda, o regulamento dos observadores associados e o programa de apoio à integração da Guiné Equatorial" na CPLP e "só essas duas matérias foram discutidas", garantiu.
Eurico Monteiro admitiu, porém, que na abertura da reunião do comité os representantes dos países "tiveram a oportunidade de endereçar os seus protestos de solidariedade para com a Guiné Equatorial".
"Isto foi expressão de solidariedade por parte dos Estados-membros. Tudo o que tem a ver com os apoios materiais, logísticos e financeiros que os Estados-membros possam oferecer ou a própria CPLP é matéria que não foi tratada nesta reunião", sublinhou.
Segundo o diplomata cabo-verdiano, os “pedidos estão em exame e em tramitação nos Estados-membros e cabe apenas aguardar”, até porque, realçou, “são decisões que implicam o envolvimento de esferas de nível mais elevado", ou seja, de "ordem ministerial".
Contudo, também não garantiu que o assunto possa ir à próxima reunião de Conselho de Ministros de Negócios Estrangeiros da CPLP, marcada para 26 de Março, pois também é uma reunião extraordinária.
"A agenda do Conselho de Ministros de 26 (de Março) é uma agenda de uma reunião extraordinária para discutir a convenção da mobilidade", salientou.
"Mas é evidente que os senhores ministros são livres para introduzirem os pontos que entenderem convenientes. E mesmo o senhor ministro da Guiné Equatorial, como todos os ministros, podem propor outros pontos de agenda", acrescentou.
O embaixador da Guiné Equatorial em Lisboa disse em 08 de Março ter pedido oficialmente ajuda de emergência a Portugal e aos restantes membros da CPLP na sequência das explosões em Bata, que causaram dezenas de mortos e centenas de feridos.
"Formalizei esta manhã o pedido de ajuda ao secretário executivo e a todos os países membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Formalizei também o pedido de ajuda a Portugal, tanto ao nível da Presidência da República, como do Governo", disse Tito Mba Ada à agência Lusa.
Várias explosões nos depósitos de armamento de um quartel na cidade portuária de Bata, na parte continental da Guiné Equatorial, destruíram quase totalmente as casas e edifícios num raio de cerca de mais de dois quilómetros.
De acordo com o relatório mais recente do gabinete coordenador das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários (OCHA), 107 pessoas morreram nas explosões e 119 pessoas, na sua maioria crianças, continuam hospitalizadas.
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 150 famílias estão deslocadas e alojadas em abrigos temporários, um terço das quais são crianças.
Na sequência das explosões, o chefe de Estado, Teodoro Obiang, lançou um apelo à comunidade internacional para que ajude a Guiné Equatorial, numa altura em que o país vive uma crise sanitária devido à pandemia de covid-19 e uma crise económica por causa da quebra dos preços do petróleo.
O embaixador Tito Mba Ada disse que "neste momento de tristeza", a Guiné Equatorial precisa de ajuda da comunidade lusófona, nomeadamente dos países que têm experiência em gestão de crises.
O diplomata admitiu dificuldades em definir com precisão o tipo de ajuda necessária, adiantando que o "tudo é necessário e todo o apoio será bem-vindo".
Antiga colónia espanhola, a Guiné Equatorial aderiu à CPLP em 2014.
O Presidente, Teodoro Obiang Nguema, que governa o país da África Central há quase 42 anos, acusou agricultores das redondezas de terem permitido a propagação para o quartel de queimadas mal controladas, considerando que os soldados que estavam a guardar o arsenal foram "negligentes".