Mogadíscio - O Governo da Somália avisou hoje que vai encerrar e retirar a licença a todas as empresas que façam pagamentos ao grupo fundamentalista Al-Shebab, que impõe impostos paralelos à população numa grande parte do país para se financiar.
O ministro do Comércio e Indústria da Somália, Jibril Abdirashid Haji, acusou hoje empresários ou empresas que pagam ao grupo terrorista de estarem "directamente envolvidos no assassinato de civis" e disse que os seus bens seriam confiscados, de acordo com relatos dos meios de comunicação locais citados pela agência de notícias EFE.
Apesar destas acusações por parte do Governo, peritos dizem que as lojas e empresas em algumas das principais cidades do país, incluindo a capital, Mogadíscio, são forçadas a pagar estas taxas ao grupo rebelde para poderem operar.
De acordo com um estudo publicado pelo 'think tank' (grupo de reflexão) Somali Hiraal Institute em Outubro de 2020, o Al-Shebab recolhe até 15 milhões de dólares (cerca de 15,4 milhões de euros, ao câmbio actual) por mês através destes impostos, que são cobrados sobre diferentes actividades comerciais, tais como a agricultura, a importação de bens através do porto ou o sector imobiliário.
O pagamento destes impostos "não é voluntário", segundo o estudo, mas "a única motivação que move os contribuintes do Al-Shebab é o medo e uma ameaça credível às suas vidas".
As autoridades somalis anunciaram hoje, em comunicado, que mataram mais de 30 combatentes deste grupo terrorista e recuperou o controlo de uma cidade estratégica no centro-sul da Somália.
De acordo com uma declaração divulgada hoje pelo Governo somali, as forças armadas do país recuperaram o controlo sobre a cidade de Hawadley - cerca de 40 quilómetros a norte de Mogadíscio, e na região de Middle Shabelle - localizada numa rota de abastecimento importante para os terroristas.
"O Exército Nacional matou 30 elementos terroristas durante a batalha, incluindo três líderes", disseram as autoridades.
O Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, declarou uma "guerra total" a 23 de Agosto para "eliminar" o Al-Shebab, cujos membros tinham antes apreendido um popular hotel em Mogadíscio durante 30 horas e matado 21 pessoas.
Desde então, várias operações militares apoiadas pelos Estados Unidos foram levadas a cabo contra os fundamentalistas, que no mês passado mataram "mais de 100 membros" do Al-Shebab, segundo o Governo somali.
O Al-Shebab, um grupo filiado desde 2012 na rede Al-Qaida, realiza frequentemente ataques em Mogadíscio e em outras partes da Somália para derrubar o governo central - apoiado pela comunidade internacional - e estabelecer pela força um Estado islâmico (ultraconservador) de estilo Wahhabi.
O grupo fundamentalista controla áreas rurais no centro e sul da Somália e também ataca países vizinhos como o Quénia e a Etiópia.
A Somália encontra-se em estado de guerra e caos desde 1991, quando Mohamed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de milícias e senhores da guerra islâmicos.