Paris - A ministra da Cultura francesa, Roselyne Bachelot, anunciou hoje, sexta-feira, a abertura antecipada dos arquivos sobre "inquéritos judiciais" da guerra da Argélia (1954-1962) numa altura em que se verificam atritos nas relações franco-argelinas sobre o conflito.
"Abro, com um adiantamento de 15 anos, os arquivos sobre inquéritos judiciais das forças de segurança ('gendermarie' e polícia) relativos à guerra da Argélia", anunciou hoje a ministra à estação BFMTV.
O anúncio da ministra da Cultura ocorre dois dias depois da visita do chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, a Argel.
"Eu quero que nesta questão - que é perturbadora, 'irritante', onde há 'falsificadores da história' - possamos olhar de frente. Não se constrói um relato nacional com base na mentira", disse Bachelot.
"É a falsificação que nos leva aos erros, aos problemas e ao ódio. A partir deste momento os factos estão sobre a mesa, onde devem ser reconhecidos e analisados. É a partir de agora que podemos construir outra história, uma reconciliação", acrescentou.
A governante, que tem a tutela dos referidos arquivos, disse ainda existirem "coisas para reconstruir com a Argélia e que só se podem reconstruir com a verdade".
Questionada sobre as consequências da decisão, nomeadamente sobre a confirmação de eventuais actos de tortura cometidos pelo Exército francês na Argélia, a ministra sublinhou que é do "interesse" da França "reconhecer" os factos.
O anúncio enquadra-se na política de reconciliação relativo à memória (histórica) iniciada pelo presidente Emmanuel Macron.
No dia 13 de Setembro de 2018, Macron reconhecia o envolvimento do Exército no desaparecimento do matemático e militante comunista Maurice Audin, em 1957, prometendo aos familiares o acesso aos arquivos franceses.
No passado dia 09 de Março, continuando a política dos "pequenos passos" ("petits pas"), o chefe de Estado anunciava a simplificação relativa aos procedimentos de abertura dos arquivos classificados e com mais de 50 anos permitindo encurtar os prazos.
A guerra da Argélia pela sua independência do domínio francês causou centenas de milhares de mortos, a maior parte dos quais civis.