Paris - O ano de 2022 no Mali está ser marcado por um aumento sem precedentes dos ataques a civis na região central, um fenómeno alimentado pelo "reinado da impunidade", disse hoje a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH), com sede em Paris (França).
Após dois golpes sucessivos, em 2020 e 2021, os militares agora no poder trocaram em 2022 o seu parceiro francês pela Rússia, nomeadamente o grupo Wagner, "instrutores" e mercenários envolvidos em múltiplos abusos, de acordo com a ONU, estados ocidentais e organizações de direitos humanos.
O exército maliano lançou uma ofensiva no centro do Mali no início de 2022. "Este regresso violento contribuiu para a exacerbação da violência a nível local e provocou um nível sem precedentes de violações dos direitos humanos contra a população civil", disse a FIDH no lançamento do seu relatório de investigação "No Mali Central, vítimas e perpetradores vivem juntos".
A FIDH registou um aumento e diversificação dos casos de violência perpetrados pelos militares e seus parceiros, tais como a criação de um campo de tortura em Pergue, na região de Segou, negada pelas autoridades.
A ONG regista também um aumento acentuado de casos de violência sexual, incluindo dezenas de violações de mulheres durante uma operação em Moura, no final de Março.
O relatório assinala, contudo, que é quase impossível quantificar o número de vítimas de abuso sexual, mas explica o seu aumento pela deterioração da situação de segurança, a ausência do Estado e a proliferação de armas.
As delegações da FIDH recolheram e cruzaram dezenas de testemunhos acusando terroristas, milicianos ou membros do exército maliano e os seus parceiros de violação no centro do Mali.
A FIDH também denuncia um reinado da impunidade. "Houve muitos procedimentos abertos, mas deixam as violações dos direitos humanos à margem", disse a Drissa Traoré, a sua secretária-geral, que recorda "a falta de vontade política, a impossibilidade de acesso a certas áreas, a falta de meios e uma proteção das vítimas que não está de todo assegurada".
Desde 2012, o Mali, pouco desenvolvido, tem vindo a enfrentar a propagação do terrorismo e da violência de todos os tipos, mas também uma grave crise política e humanitária.