Durban - O ex-presidente sul-africano Jacob Zuma, em liberdade condicional médica, disse hoje que é prisioneiro de um Estado de maioria negra, considerando inconstitucional a sua prisão por desacato à Justiça.
O antigo chefe de Estado falava, pela primeira vez, por videoconferência, a milhares de simpatizantes que se congregaram em Durban para uma "oração de boas-vindas a casa".
"Hoje agradeço o vosso apoio como prisioneiro de um Estado democrático no qual a maioria negra controla o poder do Estado", afirmou Zuma, sublinhando que no anterior regime de segregação racial do 'apartheid' "é que as pessoas eram presas sem julgamento".
Zuma declarou que a África do Sul é um "Estado governado por aqueles que sabem o que é ser oprimido e [ver] negado direitos humanos fundamentais", acrescentando: "É este Estado que me prendeu por desacato à Justiça sem julgamento".
"Alguma coisa aconteceu terrivelmente errado no nosso país", salientou.
Jacob Zuma foi posto no mês passado em liberdade condicional médica depois de ter sido preso a 08 de Julho para cumprir uma pena de prisão de 15 meses, por se recusar a testemunhar perante a Comissão Judicial 'Zondo', que investiga a captura do Estado pela grande corrupção pública durante o seu mandato (2009-2018).
"Os principais aspetos do desastre inconstitucional que culminou na minha atual prisão repetem-se, eu continuo prisioneiro em condições de liberdade condicional muito estritas", afirmou Zuma.
O ex-presidente sul-africano referiu que foi alvo de "muitas tentativas" desde 1994 para o afastar de posições de liderança no partido no poder, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), e também no Governo.
Zuma reiterou que a comissão de inquérito judicial à captura do Estado pela grande corrupção pública foi "a medida final daqueles que receiam" o que representa, considerando que a comissão foi criada de forma "inconstitucional" e "ilegal".
A oração de hoje, que juntou milhares de simpatizantes do ex-presidente, foi organizada pela Fundação Jacob Zuma.
O antigo chefe de Estado foi forçado a demitir-se em 2018, após uma série de escândalos terem sido revelados. Dois anos antes, um relatório da acusação detalhava como um grupo de irmãos, empresários de origem indiana, tinha saqueado recursos públicos sob a sua presidência.
Zuma enfrenta 16 acusações de fraude, suborno e extorsão, relacionadas com a compra de equipamento militar a cinco empresas de armamento europeias, em 1999, quando era vice-presidente.