Ex-guerrilheiros desmobilizados em Moçambique viram-se para a agricultura

     África              
  • Luanda • Segunda, 19 Junho de 2023 | 10h38
Agricultura (Foto ilustração)
Agricultura (Foto ilustração)
António Lourenço

Maputo - Muitos ex-guerrilheiros desmobilizados no encerramento da última base da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em Gorongosa vão dedicar-se à agricultura de subsistência, a opção que consideram ajustada à sua realidade após largar as armas.

A base de Vunduzi foi encerrada oficialmente na última quinta-feira.

Catarina Boca, 59 anos, era uma enfermeira da guerrilha e a sua história é igual à de tantos guerrilheiros: foi recrutada em 1986, com 22 anos e a frequentar a sexta classe durante a guerra civil moçambicana, que durou 16 anos.

"Fiz o curso de enfermeira lá no mato", na Gorongosa, conta à Lusa, com um sorriso discreto ao lembrar que cuidou de "muitos feridos" durante a guerra civil.

Foi desmobilizada pela primeira vez em 1994, pela Onumoz, a missão de paz das Nações Unidas em Moçambique.

Na altura voltou à aldeia com pratos, panelas, uma catana, um machado, uma enxada e um subsídio garantido por alguns meses, um apoio que a ajudou a recomeçar a vida.

A paz era frágil, os tiros recomeçaram e em 2013 aceitou o convite do braço militar do partido para se juntar ao reagrupamento na serra da Gorongosa e lutar novamente pela democracia.

Assistiu 41 partos nos últimos 10 anos.

Desta última vez, teve aos seus cuidados sobretudo grávidas, mulheres dos ex-guerrilheiros, fruto de relações em aldeias próximas das bases.

Uma realidade reflectida na quantidade de roupa infantil estendida em galhos e arbustos, com o barulho de uma longa fila de crianças ali ao lado, outras ao colo das mães, junto a tendas militares que juntam ex-guerrilheiros durante as burocracias do registo de desmobilização.

"Já estamos a ser desmobilizadas", mais uma vez, mas à espera que agora a paz seja definitiva, diz Catarina.

Prepara-se para praticar agricultura de autossustento, em Macequece, no distrito de Manica.

Desta vez, deram-lhe uma sacola de ráfia com um par de saias, toalha, sandálias, um jogo de cadernos, pasta de dentes, escovas e um subsídio garantido por seis meses, enquanto aguarda a fixação da pensão já decretada pelo Governo.

Outra ex-guerrilheira, Telma Titosse, desmobilizada da base de Satunjira, junto às encostas da serra da Gorongosa, lamenta o "sofrimento" que a guerra provocou, a ela e a todos.

Regressou à guerrilha em 2012, a par do reacendimento do conflito político militar em Moçambique.

Na quinta-feira, a última arma da Renamo foi entregue ao governo e isso deixou-a satisfeita.

"Agora estou feliz, porque volto para casa", diz Telma Titosse à Lusa, lembrando que vai produzir comida para seu próprio sustento, no regresso à aldeia natal em Mangunde, também a terra natal do líder histórico da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu em 2018 vítima de doença.

Lourenço Fortuna, 56 anos, viveu os últimos 11 em duas bases da Renamo na Gorongosa, lá chorou Dhlakama, e a ele foi confiada a tarefa de deitar fogo ao quartel-general, incluindo os abrigos onde vivia e morreu o antigo líder do partido da oposição.

Na terça-feira, dois dias antes da cerimónia oficial de encerramento, ele e outros quatro militares das forças moçambicanas queimaram tudo, numa ordem conjunta do Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e da liderança da Renamo.

Loureço confessa-se satisfeito "por poder voltar a casa para cuidar da família".

O encerramento da 16.ª e última base da Renamo está em linha com o Acordo de Maputo para a Paz e Reconciliação Nacional, assinado em Agosto de 2019.

A cerimónia representou o final do processo de desmobilização de 5.221 guerrilheiros que permaneciam nas bases em zonas remotas e que começaram a entregar as armas há quatro anos.

Segue-se a fase de reintegração, que inclui o início do pagamento de pensões aos desmobilizados. JM





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