Nova Iorque - O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que a vaga de deslocações causada pela violência na República Democrática do Congo, representa uma "ameaça mortal" para as crianças, incluindo as que vivem em campos de deslocados.
A agência da ONU sublinhou que o agravamento da crise no leste da República Democrática do Congo (RDCongo) está a causar constrangimentos no acesso humanitário aos campos, especialmente como resultado de um aumento das pessoas deslocadas pelas recentes ofensivas do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23) no território de Rutshuru, na província do Kivu Norte.
"Os campos de deslocados estão repletos de perigos", alertou a diretora de Emergências da Unicef, Dounia Dekhili. "Além da ameaça da cólera, as crianças e os jovens estão em risco de violência baseada no género em campos extremamente sobrelotados", afirmou.
Dekhili disse que quase 100.000 pessoas chegaram nos últimos 10 dias aos campos de desalojados da área, algumas delas apressadamente instaladas para acomodar as vítimas, sem cumprir as garantias de segurança e limpeza para evitar possíveis surtos de doenças.
Estas pessoas deslocadas somam-se às quase 200.000 pessoas que fugiram das suas casas desde o recrudescimento dos combates no final de Março de 2022, no meio de uma crise diplomática entre a RDCongo e o Rwanda, acusado do alegado apoio às operações do M23.
"Há cerca de 190 crianças que foram separadas das suas famílias ou cuidadores durante o caos das recentes deslocações e até agora reunimos 80 com as suas famílias em território Nyiragongo", referiu Dekhili.
"Mais casos de crianças desacompanhadas e crianças associadas a conflitos armados são suscetíveis de surgir à medida que a crise se desenrola. Fornecer às pessoas água limpa, latrinas e comida suficiente está a revelar-se um grande desafio. Não é exagero dizer que as vidas de milhares de pessoas que vivem nestes campos estão em grave perigo", sublinhou.
Como tal, Jean Metenier, chefe do escritório da Unicef em Goma, especificou que "as prioridades são fornecer acesso a água potável e higiene, trabalhar com agências e parceiros para fornecer alimentos e melhorar a qualidade do abrigo".
"Exortamos todas as partes em conflito a não recorrerem à violência, a protegerem as crianças e os seus pais e a procurarem a paz. O sofrimento deve terminar imediatamente", disse Metenier numa declaração publicada na página oficial da agência.
O M23 é acusado desde Novembro de 2021 de realizar ataques às posições do exército da RDCongo no Kivu do Norte, sete anos após as partes terem chegado a uma trégua.
Peritos da Organização das Nações Unidas acusaram o Uganda e o Rwanda de apoiarem os rebeldes, embora ambos os países o tenham negado.