Addis Abeba - Milhares de etíopes são chamados hoje às urnas para votar nas eleições regionais e parlamentares, em meio de instabilidade que ameaça o escrutínio em várias partes do país.
Em Oromia, a região natal do primeiro-ministro Abiy Ahmed, o aproximar das eleições tem feito aumentar a actividade do Exército de Libertação Oromo (OLA), a facção armada que se separou da Frente de Libertação Oromo (OLF), e que foi em Maio considerada pelo Governo etíope uma organização terrorista.
"Temos ouvido falar da perda de muitas vidas. E os números estão a aumentar de dia para dia. Continuamos a ouvir dizer que estão a ser mortas pessoas. Os membros dos partidos da oposição que se encontram na prisão devem ser libertados", indicou ao jornal alemão DW um jovem que preferiu manter o anonimato.
Na região de Oromia, tanto a OLF como o Congresso Federalista Oromo (OFC), cujos líderes se encontram detidos, decidiram retirar-se das eleições. Os dois principais partidos da oposição acusam o Governo e o partido no poder de intimidação dos seus candidatos e interferência nas suas campanhas.
"O Governo do partido no poder cortou a nossa relação com os nossos membros, os nossos apoiantes e o público. Não conseguimos fazer qualquer comunicação nem deslocar-nos até às zonas rurais para divulgar as nossas políticas e programas", diz Tiruneh Gamta, chefe de gabinete do OFC.
Ainda assim, e apesar das críticas, Abiy Ahmed continua a ser popular entre os jovens nos arredores da aldeia de Beshasha, onde nasceu. É o caso do jovem Taoufik: "Com base no trabalho que realizou, acreditamos que o partido [da Prosperidade] pode transformar este país. O trabalho que fez até agora mostra que pode trazer muitas coisas para o nosso futuro".
Nestas eleições, o primeiro-ministro etíope procura consolidar a sua legitimidade política e desde que chegou ao poder, em 2018, os desafios multiplicaram-se. A violência entre etnias intensificou-se no país e uma nova guerra civil despoletou na região do Tigray.
William Davison, analista do International Crisis Group (ICG), considera que uma maioria traria vantagens ao país. "Uma maioria nas eleições não vai resolver a disputa que levou à guerra civil em Tigray, não vai trazer um fim à insurreição do OLA em Oromia, não vai resolver a violência em Benishangul-Gumuz. Mas pode muito bem permitir que o primeiro-ministro e o seu partido no poder reclamem um mandato democrático que faria que nos próximos cinco anos conseguissem prosseguir a sua agenda", argumenta.
Para além da insegurança, os problemas logísticos relacionados com a organização das eleições ameaçam pôr em causa a sua credibilidade. No total, cerca de 20% dos círculos eleitorais não participarão nas eleições. Em Oromia, não irão às urnas 97 dos 547 distritos.