Adis Abeba - O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, afirmou esta terça-feira que o futuro estatuto do território em disputa na parte ocidental do Tigray será estabelecido segundo a Constituição etíope e está fora do acordo de cessar-fogo assinado no início deste mês.
O Tigray Ocidental, também conhecido como Wolkait, faz parte do estado etíope no norte da Etiópia ao abrigo da Constituição do país, mas foi ocupado por forças do vizinho estado de Amhara, quando a guerra eclodiu em Novembro de 2020 entre o Exército federal e as forças estaduais leais à Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
O estatuto de Wolkait é contestado por vários altos responsáveis em Amhara, que afirmam que esse território lhes foi retirado durante os 27 anos em que a TPLF liderou a coligação governamental na Etiópia.
Centenas de milhares de tigray foram expulsos do Tigray Ocidental durante o conflito, levando a acusações de "limpeza étnica" por parte do Departamento de Estado norte-americano.
Abiy afirmou hoje aos deputados no Parlamento etíope em Adis Abeba que o futuro da região será resolvido fora do quadro do acordo de cessar-fogo celebrado em Pretória no início do mês.
"Fomos à África do Sul não para decidir se o Wolkait ficará em Amhara ou no Tigray", segundo o governante, acrescentando que o acordo de Pretória não tem esse poder.
"Concordámos que deveríamos resolvê-lo com base na lei e no sistema etíopes", afirmou.
O chefe do executivo deixou ainda entender que será realizado um referendo para resolver o assunto depois dos deslocados de Wolkait regressarem as suas casas.
"Deveria ser dada às pessoas a oportunidade de obterem oportunidades democráticas", afirmou. "Só através disso poderemos obter uma solução", acrescentou.
O acordo de cessar-fogo alcançado na África do Sul foi saudado como uma oportunidade para pôr fim à guerra do Tigray, que a diplomacia norte-americana disse ter resultado em centenas de milhares de mortes.
No passado sábado, líderes militares das partes beligerantes assinaram um acordo em Nairobi, capital queniana, para implementar aspetos práticos da trégua.
O acordo compromete as partes a facilitar o acesso humanitário "sem entraves" ao estado de Tigray, após mais de dois anos de restrições e impedimentos à chegada da ajuda à região, que, não obstante o tempo que decorre já desde a assinatura da trégua, ainda não começou a chegar à região no norte da Etiópia, com mais de mais de 05 milhões de pessoas.
O acordo de Nairobi contém igualmente disposições para levar a cabo o desarmamento das forças estaduais de Tigray.
O Governo etíope estima que o país precisará de quase 20 mil milhões de dólares para reconstruir o que foi destruído nos conflitos.