Cidade do Cabo - O embaixador sul-africano, expulso dos Estados Unidos e declarado “persona non grata” pela administração Trump, foi recebido como um herói quando regressou ao país no domingo, centenas de apoiantes se reuniram num dos aeroportos na Cidade do Cabo e cantaram canções em seu favor.
A multidão no recinto aeroportuário cercou Ebrahim Rasool e a sua esposa Rosieda, que precisaram de uma escolta da polícia para abandonar o local.
A sua chegada, o diplomata afirmou que era importante para a África do Sul reparar a sua relação com os EUA depois de o Presidente Donald Trump ter castigado o seu país e o acusado de adoptar uma postura anti-americana mesmo antes da decisão de expulsa-lo.
O Presidente dos EUA emitiu uma ordem executiva no mês passado, cortando todo o financiamento à África do Sul, alegando que o seu governo está a apoiar o grupo palestiniano Hamas e o Irão, e a adoptar políticas anti-brancos no país.
“Não viemos aqui para dizer que somos anti-americanos”, Não estamos aqui para lhe pedir que deite fora os nossos interesses com os Estados Unidos”, disse Rasool à multidão.
Estes foram os primeiros comentários públicos do ex-embaixador desde que a administração Trump o declarou “persona non grata” há mais de uma semana, retirou lhe as imunidades e privilégios diplomáticos e deu-lhe um ultimato para abandonar até sexta-feira (21/3) os EUA.
Rasool, segundo o Secretário de Estado Norte-americano, Marco Rubio, que tem um link para um artigo no site de notícias conservador Breitbart, terá dito numa palestra em Joanesburgo (África do Sul) em linguagem académica sobre as repressões do governo Trump aos programas de diversidade, equidade e imigração e mencionou a possibilidade de um país nos Estados Unidos onde os brancos em breve já não seriam a maioria.
“O ataque supremacista à titularidade, vemos isso na política interna dos EUA, no movimento MAGA, no movimento Make America Great Again, como uma resposta não simplesmente a um instinto supremacista, mas há dados muito claros que mostram grandes mudanças demográficas nos EUA, nas quais o eleitorado votante nos EUA está projectado para se tornar 48% branco”, afirmou o diplomata na palestra.
Quando regressou a casa no domingo, disse que mantinha os seus comentários e caracterizou-os como meramente um aviso aos intelectuais e líderes políticos da África do Sul de que os EUA e a sua política tinham mudado.
Declarou ainda que a África do Sul resistiria à pressão dos EUA e de qualquer outro país para abandonar o seu caso no Tribunal Internacional de Justiça, acusando Israel de genocídio contra os palestinianos em Gaza. A administração Trump citou o caso contra Israel, aliado dos EUA, como uma das razões pelas quais alega que a África do Sul é anti-americana.
A história do Breitbart que Rubio citou ao anunciar a expulsão de Rasool foi escrita pelo editor sénior sul-africano Joel Pollak, que é judeu e aliado da administração Trump.
Pollak é também um candidato para ser o novo embaixador dos EUA na África do Sul, de acordo com os meios de comunicação sul-africanos. Alguns dos apoiantes que deram as boas-vindas a Rasool, que é muçulmano, agitaram bandeiras palestinianas e gritaram “Palestina livre”.
“Enquanto estamos aqui, os bombardeamentos (em Gaza) continuam e os tiroteios continuam, e se a África do Sul não estivesse no (Tribunal Internacional de Justiça), Israel não seria exposto, e os palestinianos não teriam esperança”, disse Rasool.
“Não podemos sacrificar os palestinianos... mas também não desistiremos da nossa relação com os Estados Unidos. Devemos lutar por ele, mas devemos manter a nossa dignidade”, afirmou diplomata. DSC/AM