Genebra - Cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas das suas casas este ano na República Democrática do Congo (RDC), onde os direitos humanos continuam a degradar-se, afirmou esta terça-feira o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, noticia a Lusa.
A situação na RDC, país que faz fronteira com Angola, é "uma mistura explosiva de violência crescente, interesses regionais e internacionais, empresas exploradoras e um Estado de direito fraco" declarou Volker Türk ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU em Genebra, Suíça.
Entre 01 de Junho de 2023 e 31 de Maio de 2024, 85% das violações e abusos cometidos na RDC ocorreram nas províncias já afectadas pelo conflito no leste do país.
Segundo Türk, os membros de grupos armados foram responsáveis por 61% destas violações, bem como de ataques mortais contra civis e infra-estruturas civis, incluindo escolas e hospitais.
A violência sexual está a aumentar, tendo sido identificadas 700 novas vítimas, lamentou.
"Os grupos armados estão a raptar, a manter em cativeiro e a submeter mulheres e raparigas a escravidão sexual. Muitas delas foram mortas depois de terem sido violadas", acrescentou.
Türk citou fontes humanitárias que referem que "mais 940.000 pessoas foram deslocadas internamente este ano, elevando o número total de pessoas deslocadas para mais de 6,4 milhões".
O Alto-Comissário exortou "os países com influência sobre os grupos armados a fazerem tudo o que estiver ao seu alcance para pôr termo aos combates, nomeadamente o Rwanda, que tem de deixar de apoiar o M23 (Movimento 23 de Março) no Kivu do Norte, e qualquer outro país que apoie grupos armados activos na RDC".
Para si, as receitas dos recursos naturais devem beneficiar a população.
"A RDC é dotada", em particular, "de minerais como o cobalto, o coltan, o ouro e o cobre, de um potencial hidroeléctrico significativo, de vastas terras aráveis, de uma biodiversidade imensa e da segunda maior floresta tropical do mundo", disse.
No entanto, a apropriação dos recursos provenientes da exploração ilegal e do comércio ilícito dos recursos naturais do país, com a cumplicidade de empresas nacionais e estrangeiras, bem como a proliferação e o tráfico de armas, continuam a ser um dos principais motores da actual violência", lamentou.
"Esta situação também mergulha a população na pobreza (...) O que me impressiona é a medida em que a situação no leste (da RDC) está ligada à nossa vida quotidiana, como os nossos telemóveis, que são alimentados por minerais do leste", advertiu. AM