Kinshasa – A atribuição de um carro de luxo a cada um dos 500 deputados pelo Presidente da República Democrática do Congo (RDC) está a gerar uma onda de protestos no país e uma organização ameaça levar o assunto a tribunal.
O presidente da Assembleia Nacional, Christophe Mboso, explicou na semana passada que o "presente" aos deputados do Presidente, Felix Tshisekedi, era uma "materialização" do seu apelo à adesão à coligação presidencial União Sagrada da Nação, de acordo com uma gravação áudio amplamente partilhada nas redes sociais.
Confrontado com numerosos protestos de activistas e opositores da sociedade civil, o gabinete da Assembleia Nacional multiplicou-se em comunicados, denunciando a "falta de maturidade política" dos autores da fuga da gravação, bem como a "má-fé por parte de alguns deputados mal-intencionados".
"A compra destes 500 jipes é corrupção aberta", disse Florimont Muteba, presidente da organização não-governamental Observatório das Despesas Públicas (ODEP), citado pela agência France-Presse.
"Ficámos enojados, condenámos. Já passámos o tempo da emoção, é agora tempo de agir, de ir a tribunal", afirmou o responsável.
Muteba acusou que será preciso "saber se este dinheiro vem do orçamento de 2021, que não o prevê, ou do bolso do Presidente Tshisekedi, que teria acumulado em dois anos 27 milhões de dólares para fazer tal oferta".
A União Sagrada da Nação é a maioria criada pelo Presidente Tshisekedi em Dezembro último, depois de ter derrubado a maioria formada em torno do seu antecessor Joseph Kabila, para fazer face às ameaças de dissolução do parlamento, após dois anos de co-gestão do país pelos dois homens.
"Estes jipes não são dados aos deputados, de graça. Serão deduzidos dos seus emolumentos", disse Eliezer Thambwe, deputada pró-Tshisekedi, à agência de notícias francesa.
"Qualquer deputado que aceite o veículo oferecido pelo Presidente da República será considerado corrupto", advertiu o activista congolês dos direitos humanos Jean-Claude Katende.
Antigo adversário, proclamado vencedor das controversas eleições presidenciais de Dezembro de 2018 na RDC, Tshisekedi sucedeu a Joseph Kabila, que liderou o país de 2001 a 2019. Os dois homens governaram, no entanto, o país até Dezembro de 2020, antes de Tshisekedi colocar fim à coligação.