Ouagadougou - O julgamento dos acusados do assassinato do dirigente histórico pan-africano Thomas Sankara, num golpe de Estado em 1987 no Burkina Faso, tem início a 11 de Outubro, na capital Ouagadougou, anunciou o procurador militar do país.
"O procurador militar no Tribunal Militar de Ouagadougou informa a opinião nacional e internacional que o julgamento dos acusados no caso do assassinato do Presidente Thomas Sankara e dos seus doze companheiros será aberto na segunda-feira, 11 de Outubro de 2021 a partir das 9:00 horas GMT e locais", refere um comunicado enviado na terça-feira à agência de notícias AFP.
A 13 de Abril, foi anunciado que o antigo presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, exilado, seria julgado pelo homicídio do seu antecessor no cargo, Thomas Sankara, durante o golpe de Estado de 1987, no qual tomou o poder, segundo fonte judicial.
O caso foi naquele dia submetido ao Tribunal Militar de Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, após as acusações contra os principais arguidos, incluindo Compaoré, terem sido confirmadas, 34 anos após a morte do ícone pan-africano, conhecido localmente como o 'pai da revolução', de acordo com advogados de defesa e partidos civis citados na altura pela AFP.
Guy Herve Kam, advogado da parte civil, adiantou que o rol de acusados é composto "essencialmente por Blaise Compaoré e 13 outros, acusados de atacar a segurança do Estado, cumplicidade no assassinato e cumplicidade no recebimento de cadáveres".
Segundo este advogado, "chegou finalmente o momento da justiça e um julgamento pode começar".
Entre os arguidos encontram-se o general Gilbert Diendéré, um dos principais chefes do exército durante o golpe de 1987, e que mais tarde foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Compaoré, e vários soldados da antiga guarda presidencial.
O general Diendéré está actualmente a cumprir uma pena de 20 anos de prisão no Burkina Faso, por uma tentativa de golpe de Estado em 2015.
Thomas Sankara, que chegou ao poder num golpe de 1983, foi morto por um comando em 15 de Outubro de 1987, aos 37 anos, num golpe que levou Compaoré, seu então companheiro de luta, ao poder.
A morte de Sankara, que se tornou uma figura pan-africana e foi apelidado de “Che Africano”, foi um assunto tabu durante os 27 anos de poder de Compaoré, que foi ele próprio derrubado por uma insurreição popular em 2014.
O caso foi novamente trazido para a ribalta depois da saída de Compaoré pelo governo democrático de transição e em Março de 2016 foi emitido um mandado de captura contra o antigo presidente, que vive na Côte d’Ivoire.
O antigo chefe de Estado tem nacionalidade ivoiriense e, como não há acordo de extradição, deve ser julgado à revelia.
Em Fevereiro de 2020, teve lugar uma primeira reconstituição do homicídio de Sankara no local do crime, na sede do Conselho Nacional da Revolução, em Ouagadougou.