Alger – A Sonatrach, empresa argelina de petróleo e gás, ameaçou quarta-feira, 27, interromper o fornecimento do crude a Espanha, por esta estar a retrocede-lo à Marrocos, notícia o “Jeune Afrique”.
Num contexto de fortes tensões diplomáticas entre Argel e Madrid, o ministério argelino da Energia e Minas, Mohamed Arkab, ameaçou romper o contrato de fornecimento de gás à Espanha se esta o encaminhar “a um outro destino”.
Mohamed Arkab advertiu que qualquer fornecimento de “quantidade argelina de gás entregue a Espanha, cujo destino não é aquele o que está previsto nos contratos, será considerado como uma violação dos contratos assinados e, consequentemente, pode conduzir ao rompimento do contrato que liga a Sonatrach e os seus clientes espanhóis”.
No entanto, a Espanha continua a receber gás argelino, através do gasoduto submarino Medgaz, com a capacidade de 10 mil milhões de metros cúbicos por ano.
O Medgaz, que entrou em actividade em 2011, é fruto de uma parceria entre Sonatrach e Medina Partnership (50 % detidos pela empresa espanhola Naturgy e 50 % pela americana BlackRock).
Arger não especifica a identidade do terceiro destino, mas sabe-se que se trata de Marrocos.
Segundo um comunicado oficial, o ministério foi informado por uma mensagem electrónica da sua homologa espanhola, Teresa Ribera, da decisão da Espanha autorizar o funcionamento, em fluxo inverso, do Gazoduto Maghreb Europa (GME) e que “ aquela operação teria lugar quarta ou quinta-feira”.
O GME foi encerrado em Outubro de 2021, por Argélia, depois da ruptura, em Agosto do mesmo ano, das suas relações diplomáticas com Marrocos, privando Rabat do gás argelino, encaminhado através da Espanha.
Em virtude das disposições do GME, Marrocos cobria 97% das suas necessidades em gás subtraindo directamente nas quantidades que transitam pelo seu território, como direito de passagem, e comprando-o a um preço preferencial a empresa argelina, Sonatrach.
A três de Fevereiro último, o governo espanhol havia anunciado que ajudaria Marrocos “a garantir a sua segurança energética”, permitindo-lhe encaminhar o gás através do e GME, invertendo o sentido da circulação do gás.
Em resposta às ameaças argelinas, o ministério espanhol da Transição ecológica assegurou, quarta-feira última, que o gás fornecido pela Espanha ao Marrocos não era de origem argelina.
De acordo com a instituição governamental espanhola, “a activação daquele mecanismo foi analisada com a Argélia nos últimos meses e comunicada quarta-feira, 27 de Abril ao ministro argelino.
Este mecanismo permitiria a Marrocos de comprar o gás liquefeito (GNL) nos mercados internacionais, recebe-lo da Espanha, ou o mesmo será regazeificado antes de ser reencaminhado através do GME.
A ameaça de Argel suspender o abastecimento do gás a Espaha segue-se a decisão de Madrid ter, em Março último, decidido apoiar o plano de autonomia de Marrocos sobre o Sahara ocidental.