Addis Abeba - A Amnistia Internacional denunciou este Domingo a expulsão da Arábia Saudita de centenas de milhares de migrantes etíopes, depois de estes terem sido presos em condições "arbitrárias e aberrantes".
Além disso, uma organização internacional solicitou uma investigação sobre os numerosos casos considerados passíveis de crimes de tortura, bem como o apuramento das circunstâncias que envolveram cerca de uma dúzia de mortes de migrantes que estiveram sob custódia entre 2021 e 2022.
Esta prática é realizada desde 2017, bem como actualmente, e segundo as estimativas da Amnistia Internacional existem mais de 30 mil cidadãos etíopes detidos nestas condições e apenas pelo simples fato de não possuírem documentos de identificação legal.
Cerca de dez milhões de trabalhadores migrantes vivem na Arábia Saudita, mas o caso dos etíopes assumem um destaque particular, de acordo com uma organização.
Em Março deste ano, as autoridades sauditas anunciaram a intenção de deportar cerca de 100.000 migrantes etíopes sem documentos -- homens, mulheres e crianças -- até ao final do ano, tudo com a "conivência" do Governo Etíope.
No centro de tudo está o sistema da 'kafala' ("patrocínio"), denunciado por várias organizações não-governamentais como sendo um modelo de exploração laboral através do qual os migrantes indocumentados correm o risco de serem expulsos do país se denunciarem práticas laborais abusivas.
A Amnistia Internacional também entrevistou antigos detidos que descreveram práticas de tortura e espancamento nos centros de detenção Al Jarj (na capital, Riad) e em Al Shumaisi (perto da cidade de Jeddah), ambos "sobrelotados" e "sem acesso fácil a cuidados médicos em caso de emergência", onde as condições em que viviam eram "insalubres", a ponto de os detidos serem obrigados a "queimar os cabelos para matar os piolhos".
Além disso, a Amnistia Internacional também deu a conhecer casos documentados de mortes que ocorreram em ambos os centros, 10 no período compreendido entre Abril de 2021 e Maio de 2022, sendo que muitos destes casos tiveram um desfecho fatal depois de lhes terem sido negados cuidados médicos de emergência, inclusive num dos casos após se verificarem graves ferimentos causados por espancamentos.
A Amnistia Internacional apela às autoridades para que investiguem estas mortes sob custódia e quer saber até que ponto estão relacionadas com a falta de cuidados médicos, lembra no comunicado.
"A Arábia Saudita tem fortemente apoiado na reformulação de sua imagem", disse o director regional da Amnistia Internacional para o Médio Oriente e Norte da África, "mas por detrás desse deste derramamento (de mudança) há uma história de abuso horrível contra migrantes que trabalharam arduamente para ajudar o país a realizar a sua grande visão" a nível mundial.