Londres - A Amnistia Internacional instou hoje o Governo da Guiné-Conacri a investigar, de forma "independente e imparcial", o acidente em que morreram pelo menos 135 de pessoas, em desacatos entre adeptos no estádio de Nzérékoré, dia 01 de Dezembro, noticia o site Notícias ao Minuto.
"Duas semanas após a morte de dezenas de pessoas num jogo de futebol em Nzérékoré, em 01 de Dezembro, as autoridades guineenses devem realizar uma investigação independente e imparcial sobre as causas dessas mortes e garantir o direito à liberdade de expressão", afirmou a Amnistia Internacional (AI) em comunicado.
A Organização Não-Governamental (ONG) critica o actual "silêncio do Governo" e a restrição de acesso à internet na cidade o que, para si, "levanta suspeitas sobre a vontade das autoridades" de agir perante esta tragédia.
Segundo organizações de direitos humanos citadas pela AI, morreram cerca de 135 pessoas, mas admitem que o número pode ser "muito maior".
No dia do acidente, o Governo referiu um número provisório de 56 mortos, com base nos dados avançados pelos serviços hospitalares, citou.
"No entanto, em 03 de Dezembro, organizações de direitos humanos sediados na região de Nzérékoré apresentaram o número de 135 mortos e cerca de 50 desaparecidos, numa declaração por escrito", prosseguiu.
Testemunhas disseram à AI que já foram enterrados mais corpos do que os números citados e que nem todas as vítimas passaram pelo hospital regional.
Segundo vídeos e fontes mencionadas pela AI, incluindo um jornalista que estava no local, uma decisão de arbitragem durante o jogo fez com que um conjunto de adeptos invadisse o campo, em forma de protesto, o que levou as autoridades ao uso de gás lacrimogéneo, gerando pânico entre milhares de espectadores.
De acordo com a imprensa, tratou-se de um jogo dedicado ao chefe da Junta Militar, Mamadi Doumbouya, que chegou ao poder após um golpe de Estado que liderou em Setembro de 2021.
Estes torneios de futebol têm proliferado nas últimas semanas na Guiné-Conacri e são vistos como eventos de apoio à possível candidatura do Doumbouya nas próximas eleições presidenciais.
"A multidão assustou-se com o gás e dirigiu-se ao portão principal, que era a única saída disponível, o que resultou numa debandada mortal", lamentou a AI.
Outro jornalista explicou que os disparos de gás lacrimogéneo foram redobrados para abrir caminho aos ministros que estavam no estádio, e que entretanto a divulgação de informações e vídeos relacionados com a tragédia foi limitada por uma restrição temporária do acesso à internet.
Até o momento, as autoridades não forneceram nenhuma explicação para esse corte nas comunicações, referiu.
As autoridades desta nação vizinha da Guiné-Bissau têm, desde 2020, feito sucessivo cortes de internet.
A junta comprometeu-se este ano, sob pressão internacional, a ceder o lugar a civis eleitos antes do final de 2024, mas anunciou depois que iria quebrar a sua promessa.
Vários representantes de Doumbouya afirmaram recentemente que eram a favor da sua candidatura nas próximas eleições presidenciais. MOY/AM