Pretória - O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, acusou hoje a ONU de prejudicar países em desenvolvimento, afirmando que a invasão russa na Ucrânia expôs a sua incapacidade de manter a paz e a segurança mundiais.
"A actual composição do Conselho de Segurança da ONU está desactualizada e é pouco representativa. Prejudica os países com economias em desenvolvimento", declarou Ramaphosa, na abertura de uma conferência de representantes da diplomacia externa sul-africana na capital do país, Pretória.
A Conferência de Chefes de Missão de 2022 (HoMC22) do ministério das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul (DIRCO), é uma plataforma de discussão estratégica anual entre os diplomatas seniores sul-africanos destacados internacionalmente, segundo a presidência da República sul-africana.
O encontro, subordinado ao tema "Posicionar a diplomacia da África do Sul globalmente para avançar as prioridades domésticas na era pós-covid-19", visa debater os objetivos da atual administração de Pretória, com foco especial nas iniciativas de recuperação económica do país.
Na ótica do líder sul-africano, "toda a arquitetura de paz e segurança das Nações Unidas precisa de ser reavaliada", acrescentando que a tomada de decisões na ONU deve ser "democratizada" para que o Conselho de Segurança "possa ser fiel ao seu mandato e ir além da paralisia provocada por alguns Estados-membros".
"Os países poderosos não devem ser autorizados a desrespeitar o direito internacional", vincou Ramaphosa.
"Precisamos de conter as ações unilaterais desses países para moldar a política global através de agressão e outras medidas coercitivas, como a imposição de sanções unilaterais", adiantou.
Segundo o chefe de Estado, "o conflito expôs a incapacidade do Conselho de Segurança da ONU de cumprir o seu mandato de manter a paz e a segurança internacionais".
O presidente da África do Sul, a economia mais desenvolvida do continente, considerou que "o conflito na Ucrânia teve um impacto extraordinário nos assuntos globais e esses desenvolvimentos continuarão a definir as relações internacionais no futuro".
Ramaphosa frisou que "o conflito causou extensa destruição e imenso sofrimento humano", reiterando que Pretória permanece "comprometida" com a Carta das Nações Unidas, incluindo "o princípio de que todos os membros devem resolver as suas disputas internacionais por meios pacíficos".
"Apoiamos o princípio de que os membros devem abster-se da ameaça ou do uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de outros Estados", referiu.
Nesse sentido, o líder sul-africano instou as partes a procurarem uma solução política negociada para a guerra na Ucrânia.
"Incentivamos os nossos parceiros internacionais a considerarem medidas de construção de confiança que aproximem as partes, em vez de adotarem medidas que alienem ainda mais as partes e resultem na escalada do conflito armado", salientou.
O Presidente Ramaphosa afirmou que a África do Sul está "profundamente preocupada" com as implicações mais amplas do "conflito" na Ucrânia para a recuperação económica global, que afetou as cadeias de abastecimento globais, elevando o preço de bens essenciais e "mergulhou o mundo numa nova era de instabilidade económica e incerteza".
Segundo o chefe de Estado, "o foco na agenda africana e os recursos alocados foram desviados, e as questões globais urgentes como as mudanças climáticas foram eclipsadas pelas crescentes tensões globais".
"A nossa responsabilidade fundamental como comunidade global é garantir que o sofrimento humano na Ucrânia acabe e que uma paz sustentável e justa seja alcançada", frisou Rampahosa, falando igualmente em conflitos noutras regiões, nomeadamente Iémen, Palestina, Líbia, Mali, Somália, Sudão do Sul, Moçambique e leste da RDC".
Nesse sentido, Ramaphosa salientou que a África do Sul "continuará a alavancar a sua participação em fóruns multilaterais para promover a causa da paz".
Todavia, frisou: "Defenderemos a nossa posição não-alinhada e manteremos uma política externa independente", referiu o Presidente da África do Sul, um aliado da Rússia que se tem recusado a condenar a invasão da Ucrânia.
"Perseguiremos o nosso interesse nacional enquanto procuramos os interesses comuns de nossa humanidade global", adiantou.