Luanda – Mais de 60 milhões de pessoas abandonaram as suas casas em África, em 2024, por diversas razões, cerca de metade dos actuais mais de 120 refugiados no mundo inteiro, constituindo um aumento de 8% em relação ao ano anterior e um recorde histórico.
Por Ana Moniz, jornalista da ANGOP
Conflitos armados, alterações climáticas, pobreza extrema, insegurança alimentar e uma crise humanitária sem precedentes no continente, com epicentro no Sudão, foram os principais responsáveis por essas cifras.
O Sudão é um dos países a braços com uma das maiores crises humanitárias do mundo devido ao conflito que eclodiu após o colapso do processo de paz em Abril de 2023. Segundo a ONU, cerca de 25 milhões de pessoas carecem de assistência humanitária e protecção.
Fala-se em 10 milhões só de deslocados e refugiados resultantes desta “guerra esquecida”.
Outro assunto preocupante do continente prende-se com o surto da varíola dos macacos, sendo que África, região que abriga um terço dos deslocamentos forçados em todo o mundo, registou mais de 20 mil casos suspeitos da doença em 2024.
A República Democrática do Congo (RDC) é o país mais afectado pelo surto. Dados do CDC África (Centro de Controlo e Prevenção de Doenças de África) mostram que foram registados no país pelo menos 17 mil 342 casos suspeitos e 3 mil 167 casos confirmados em laboratório. O vírus já provocou 582 mortos.
Pelo menos 88 casos foram detectados entre refugiados em África, 68 dos quais em cidadãos da RDC.
Para o ACNUR, o novo surto coloca as populações mais vulneráveis em alto risco e revela que a actual emergência ameaça sobrecarregar ainda mais os recursos humanitários já saturados.
Outro assunto de realce em 2024 ocorreu na Síria, onde se registou o derrube do antigo governo e do Presidente Bashar Al-Assad, a 8 de Dezembro. Antes disso, devido à instabilidade, mais de 13 milhões de pessoas estavam deslocadas dentro do país e nos países vizinhos, por conta de mais de uma década de conflito armado.
Assim, desde Novembro, quase um milhão de pessoas, maioritariamente mulheres e crianças, viram-se forçadas a deslocar-se.
A agravar o cenário, a Áustria concebeu um programa de repatriamento dos refugiados sírios enquanto vários países suspenderam as concessões de asilo, embora a ONU tenha pedido prudência no regresso ao país, perante a incerteza da situação.
Enquanto isso, a Turquia conta com 2,9 milhões de refugiados, principalmente oriundos da Síria. O país também abriga cerca de 30.400 refugiados do Iraque.
Por outro lado, os países da União Europeia (EU) acolheram, desde Março de 2022, o maior número de refugiados ucranianos que fugiram da invasão russa, após a EU activar a Directiva de Protecção Temporária.
Desde Fevereiro de 2022, a Alemanha e a Polónia foram os estados da EU que acolheram o maior número de refugiados ucranianos.
Dados disponíveis em várias fontes de informação indicam que, genericamente, cerca de 40% das pessoas deslocadas e refugiadas são menores de idade, e que cerca de 20 indivíduos são forçados a deixar as suas casas para escapar de conflitos, violência, perseguição ou violação de direitos.
As mesmas fontes destacam alguns pontos críticos que geram deslocamentos, como Sudão, Faixa de Gaza e Mianmar.
Lamentavelmente, esses refugiados e deslocados encontram, vezes sem conta, barreiras extremas para se estabelecerem nos “locais hospedeiros”, ao ponto de muitos não se conseguirem legalizar, vivendo como apátridas e, às vezes, na clandestinidade. AM/ADR