Maputo - O número de famílias afectadas pelo ciclone Jude na província de Nampula, norte de Moçambique, subiu de 19.600 para cerca de 97 mil, segundo o mais recente balanço das autoridades de socorro locais.
Sobre o balanço, a delegada do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) em Nampula, Anacleta Botão, indica que o número de óbitos provocado pelo ciclone subiu para 13, tendo sido ainda confirmados 112 feridos.
A recolha de informação tem sido condicionada pelas dificuldades de circulação provocadas pela tempestade, de 10 de Março, nas infra-estruturas rodoviárias.
"Estamos a avançar com a assistência, estamos de braços dados com os nossos parceiros e temos algumas pessoas de boa-fé que aderiram ao movimento de solidariedade nacional e que têm estado a ajudar-nos na assistência, sobretudo nos centros de trânsito que foram abertos", acrescentou Anacleta Botão.
Referiu igualmente que a província de Nampula teve em funcionamento 67 centros de trânsito, na sua maioria nas escolas, mas que 34 foram entretanto encerrados, com a melhoria de condições nos locais de proveniência.
Segundo a delegada do INGD, no distrito da Ilha de Moçambique cerca de 400 famílias chegaram a ficar sitiadas, na comunidade de Temba, obrigando as autoridades locais a recorrer a um transporte anfíbio para poder fazer chegar assistência alimentar básica.
"Essa comunidade não tinha por onde se movimentar, no local não tinha sequer um mercado, ou loja que a população pudesse recorrer em caso de necessidade de alimento básico. Vimo-nos forçados a entrar e fazer assistência", disse ainda Anacleta Botão.
O ciclone Jude assolou igualmente a província do Niassa, afectando localmente 2.735 famílias e provocando um morto e nove feridos, de acordo com o balanço feito pela delegada do INGD, Maria Isabel Cavo, que apontou ainda para a destruição de 2.688 casas de construção precária.
Acrescentou que foi registada também a destruição de 24 salas de aula, afectando 1.676 alunos e 24 professores, bem como um centro de saúde, um sistema de abastecimento de água e 356 hectares de culturas diversas.
A Lusa noticiou esta semana que o Cluster de Coordenação e Gestão de Acampamentos (CCCM, na sigla em inglês), liderado pelas Nações Unidas, precisa de 3,2 milhões de euros para apoiar os afectados pelo ciclone Jude.
O ciclone Jude, o mais recente a afectar o país, entrou em Moçambique em 10 de Março, através do distrito de Mossuril, província de Nampula, tendo feito pelo menos 16 mortos, afectando ainda, Tete, Manica e Zambézia, no centro, e Niassa e Cabo Delgado, no norte.
De acordo com o CCCM, o financiamento pedido visa apoiar mais de 136 mil pessoas, garantindo uma melhor coordenação local, o acesso a serviços e o envolvimento comunitário.
"As principais actividades incluem estabelecer e equipar estruturas comunitárias (...), realizar operações de remoção de entulho para restaurar o acesso (a algumas vias) e fortalecer mecanismos de coordenação a nível distrital e provincial", explica o documento.
Moçambique está em plena época chuvosa, que decorre entre Outubro e Abril, período em que foram já registados os ciclones Chido e Dikeledi, que afectaram igualmente o norte do país.
Os ciclones atingiram o país entre Dezembro e Janeiro, com maior impacto nas províncias de Cabo Delgado e Nampula, tendo afectado cerca de 736 mil pessoas e causado a destruição de infra-estruturas públicas e privadas.
O país africano é considerado um dos mais severamente afectados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, mas também períodos prolongados de seca severa.CS