Pretória - As autoridades sul-africanas anunciaram hoje que 87 mineiros ilegais morreram na mina de Stilfontein, sendo que nove dos corpos foram recolhidos antes das operações de resgate que começaram segunda-feira e terminaram quarta-feira, noticia o site Notícias ao Minuto.
O porta-voz da polícia nacional, Athlenda Mathe, especificou hoje que 78 corpos foram recuperados na operação de salvamento ordenada pelo tribunal e que 246 sobreviventes foram também retirados das profundezas do subsolo desde o início da operação, na segunda-feira.
Mathe indicou ainda que nove outros corpos tinham sido recuperados antes da operação de salvamento, sem dar mais pormenores.
As autoridades enfrentam uma contestação crescente e uma possível investigação sobre a sua recusa inicial em ajudar os mineiros ilegais sendo que, em vez disso, projectaram fumo para o poço da mina e cortaram-lhes o acesso a água, medicamentos e comida, de forma a atraí-los para a superfície.
"Se fosse fornecida comida, água e bens de primeira necessidade a estes mineiros ilegais, a polícia estaria a permitir que a criminalidade prosperasse", disse Mathe na quarta-feira.
A polícia e os proprietários da mina também foram acusados de retirar cordas e desmantelar um sistema de roldanas que os mineiros usavam para entrar na mina e enviar mantimentos da superfície.
Suspeita-se que os mineiros tenham morrido de fome e desidratação, mas os corpos precisam ainda de ser autopsiados para se declararem as causas das mortes.
No ano passado, um tribunal ordenou às autoridades que permitissem o envio de alimentos e água para os mineiros, enquanto outra decisão judicial, da semana passada, obrigou-as a efectuar uma operação de salvamento.
O resgate começou segunda-feira, mas a equipa de salvamento não desceu ao poço, alegando "motivos de segurança". Assim, o processo foi feito por voluntários.
Muitos testemunhos dizem que a catástrofe era evidente há semanas, quando os voluntários retiravam esporadicamente corpos em decomposição da mina, alguns com notas anexas a pedir que fossem enviados alimentos para baixo.
"Se a polícia tivesse actuado mais cedo, não estaríamos nesta situação, com corpos a acumularem-se", disse Johannes Qankase, um líder comunitário local. "É uma vergonha para uma democracia constitucional como a nossa. Alguém tem de responder pelo que aconteceu aqui", lamentou.
O segundo maior partido político da África do Sul, a Aliança Democrática, que faz parte de uma coligação governamental, apelou ao Presidente, Cyril Ramaphosa, para que abrisse um inquérito independente para descobrir "por que razão se permitiu que a situação ficasse tão fora de controlo".
As autoridades acreditam agora que cerca de 2.000 mineiros estavam a trabalhar ilegalmente na mina.
Mathe disse que pelo menos 13 crianças também saíram da mina antes da operação oficial de resgate.
Todos os mineiros que saíram da mina foram detidos e vão ser julgados, de acordo com as autoridades.
A mina é uma das mais profundas da África do Sul. A polícia afirma que os mineiros tinham a possibilidade de sair por vários poços, mas recusaram por medo de serem detidos.
Este facto tem sido contestado por grupos que representam os mineiros, que afirmam que centenas ficaram presos e morreram à fome em condições de escuridão e humidade, com corpos em decomposição à sua volta.
A África do Sul, rica em ouro, tem cerca de 6.000 minas abandonadas ou fechadas.
O Presidente sul-africano classificou os 'zama zamas' ("aqueles que tentam" em zulu), como são chamados os mineiros ilegais, muitas vezes estrangeiros, incluindo moçambicanos, como "uma ameaça" à economia e à segurança, pois roubam à África do Sul mais de mil milhões de dólares (cerca de 972 milhões de euros) por ano em depósitos de ouro.
A polícia disse que apreendeu ouro, explosivos, armas de fogo e mais de dois milhões de dólares (cerca de 1,9 milhões de euros) em dinheiro dos mineiros. MOY/AM