Arrozal da Matala começa a dar resultados 

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Produção de arroz na Matala
Produção de arroz na Matala
Morais Silva - ANGOP
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Arroz produzido na Matala, Huíla
Arroz produzido na Matala, Huíla
Morais Silva - ANGOP

Lubango – O município da Matala, localizado a 180 quilómetros a Leste do Lubango, capital da província da Huíla, experimenta, com sucesso, o cultivo do arroz, que já chega à mesa da população local e de outras partes do país.

Por Morais Silva, Pedro Diogo Fernandes e João Silva, jornalistas da ANGOP 

O arroz é dos alimentos mais apreciados pelos angolanos, mas a sua produção interna ainda é residual, sendo quase inexistente na província da Huíla, onde se cultiva, em grande escala, uma diversidade de outros produtos, sobretudo frutas.

No quadro do incentivo à produção e à estratégia do Executivo de diversificação da economia, Angola produziu, durante a campanha agrícola 2022/2023, 622 mil 804 toneladas de cereais, entre trigo, arroz, milho e soja.

Estima-se que, anualmente, o país produza 25 mil toneladas do cereal, representando apenas seis por cento do total que é importado, ou seja, ainda está aquém das necessidades anuais, estimadas em 400 mil toneladas. A Matala passa agora a contribuir com perto de oito por cento dessa necessidade real.  

Essa revolução é impulsionada por empresários chineses, que voltaram a dar vida a um antigo estaleiro onde, há 20 anos, estava o material e a tecnologia para a recuperação de infra-estruturas destruídas pela guerra, tais como o Caminho-de-ferro de Moçâmedes.

Nos últimos anos, o espaço ganhou vida e outra serventia, com a colocação de máquinas de descasque, secagem, embalamento e câmaras de conservação do arroz.

Na Matala, os chineses introduziram novas técnicas de cultivo do grão, que já é consumido no mercado local, onde começa a abundar a marca Olombi, na língua local, que na língua portuguesa significa conduto ou acompanhante.

O arrozal nasceu nas margens do maior canal de irrigação do país, com quase 42 quilómetros de extensão e sustenta, actualmente,  o Perímetro Irrigado da Matala, com cerca de 10 mil hectares, de acordo com os responsáveis da Olombi Agro-negócio Lda.

O terreno começou a ser preparado em 2013, mas a produção efectivou-se apenas cinco anos mais tarde, numa área de 514 hectares, 140 deles cultivados com arroz, que é colhido após um período de 120 dias de maturação.

Em 2023, a produção cifrou-se em 900 toneladas, prevendo-se que a próxima colheita seja de mil e 200, conforme o director de produção do grupo, Zhai Jian Hua “Zé”,  chinês de 40 anos, engenheiro de construção civil, talhado para a produção de arroz.

Na fazenda, os chineses, os únicos que produzem o grão no município e na província da Huíla, instalaram, no ano findo, um novo viveiro de um hectare, que será replantado, este mês, nos 140 hectares já preparados.  

Zhai Jian Hua, ou melhor “Zé”, disse ser um investimento que gerou até agora 22 empregos directos, número que chega aos 200 ou 300 trabalhadores sazonais durante a fase de colheita, separação, peneiragem, descasque, secagem e embalamento.  

A disponibilidade da água, através do canal suportado pelo rio Cunene, é um importante incentivo, conforme o produtor, que está agora a investir na extensão da rede de energia para poupar os custos de produção, com a instalação de um novo posto de transformação para suportar a pequena indústria instalada no local.  

Do ponto de vista de rentabilidade, a aposta vai para a variedade chinesa Taiping 225, cuja meta é atingir, até 2025, uma produção de duas mil toneladas por ano.    

Para além do arroz, a fazenda está a ensaiar outras culturas, tendo preparado 100 hectares para o milho e igual quantidade para hortícolas e frutas (laranja e uva).  

Produção enfrenta entraves   

Apesar do sucesso na produção do arroz, há espinhos que, muitas vezes, constrangem o processo. A incidência de bandos de pássaros no arrozal é o principal problema.

Os animais acabam por devastar cerca de duas toneladas por safra e não há, por enquanto, uma forma eficaz para combatê-los sem agredir a biodiversidade, pelo que se activa algumas vezes as sirenes para enxotar e aliviar o prejuízo.  

Outro problema tem a ver com a incapacidade da máquina de descasque para atender a demanda: só suporta 10 toneladas por dia e, por isso, a colheita é feita por fases.

O produtor avança que uma vez instalada a energia da rede, será adquirida uma outra indústria mais potente, porquanto, actualmente, trabalhando a geradores os custos de produção são altos.  

Fez saber que o roubo, ainda no campo de cultivo, já que a área não é vedada, deixa prejuízos fixos entre 10 e 20 por cento da produção, assim como a invasão do perímetro por camponeses locais.

O assunto já é da alçada das autoridades, segundo o entrevistado, destacando o empenho e acompanhamento da direcção da Agricultura, do Comércio, da Polícia e da Indústria.  

O acesso a fertilizantes é outro problema, uma vez que a cada ano agrícola são gastas 150 toneladas de produto importado directamente da China, mas diz aguardar ansioso pela entrada em funcionamento da fábrica de fertilizantes do Namibe.

A mesma passará a ser a principal fonte de aquisição do produto.  

Arroz da Matala com aceitação no mercado

“Até ao momento, só recebemos elogios e já há contactos para o mercado absorver a produção. Por ser um produto 100% natural e sem conservantes, a aceitação é maior”, disse Zhai Jian Hua.  

A Olombi tem três câmaras de conservação de temperaturas reguladas, cada uma com 30 toneladas. O produto é vendido em sacos de 25 kg e de cinco kg.

Gregório Joaquim, revendedor e consumidor do mercado local, experimentou o arroz e diz ser bom. Para além da qualidade, já que é um produto sem conservantes, o preço é outro factor de atracção.  

Margarida Araújo é outra cidadã que já consome o arroz local e realça a qualidade.

Por sua vez, o director municipal da agricultura da Matala, Bernardo Chicomo, disse que é um investimento que coloca o município entre os médios produtores do grão e dos mais importantes projectos afins feitos localmente, porquanto contribui para uma segura reserva estratégica.  

Bernardo Chicomo destaca ainda a criação de empregos e a disponibilidade de um produto muito consumido, contrariando a dependência do município de outras paragens para alimentar os seus habitantes, por ser um bem que está a um passo de si e a preços ao alcance da maioria.  

De tradutor a peça chave no projecto   

Anderson Tuvecalela, tradutor e assistente administrativo, recebeu uma bolsa da empresa em 2013 e foi à China fazer a licenciatura em economia e comércio internacional, por cinco anos. De regresso ao país, fixou-se em Luanda, onde nasceu há 30 anos, mas mais tarde transferido à Matala.  

Tuvecalela admite que, inicialmente, a adaptação foi difícil, visto que fez economia e na prática está a trabalhar na agronomia, o que obrigou a um esforço extraordinário para aprender o novo ofício, sobretudo pela responsabilidade de ser tradutor.

Sendo o único, isso o força a permanecer por muito tempo no município.  

Noutro segmento está Pedro António, contratado há quatro anos. Aos 36 anos, faz todos os dias 40 minutos do sector de Castanheira de Pêra até ao serviço, à pé. Está colocado na área de descasque.  

Admite que é um projecto que tem pernas para andar e que salvou da delinquência a ele e a muitos dos seus vizinhos. Ainda assim, clama pela melhoria das condições de trabalho, sobretudo da alimentação no local de serviço.  

No mesmo “barco” está Miguel Joaquim Songo, de 33 anos de idade e pai de três filhos,  colocado na área de secagem há dois anos, segundo o qual o salário, de 29 mil kwanzas, embora baixo para a realidade local, serve para sustentar a família.  

Assinala que a nova realidade levou-o a apaixonar-se pela prática que, diariamente, lhe consome cinco horas e meia do dia (das 06 às 11h30).  

Segundo especialistas, o preço do arroz atingiu o seu nível mais alto dos últimos 15 anos, antevendo o efeito negativo das alterações climáticas e do conflito russo-ucraniano, que vão afectar, nos próximos anos, o abastecimento alimentar mundial.

O aumento representou 9,8% em Agosto último, anulando assim as quedas de preços verificadas noutros produtos alimentares essenciais, refere um recente relatório da FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.  MS/DIF/JFS  





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